sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Ecco la Sicilia!


- Você vai para aquela ilha?

Em Palermo, a herança árabe presente em toda parte

Essa foi a reação de minha mãe, 94 anos, animada pelas fantasias que afloraram à sua memória, quando eu lhe disse que estava indo para a Sicilia, na Itália. Fantasias perpetuadas graças à genialidade do cinema, sempre associadas ao poderoso D. Corleone, o “Chefão”, imortalizado pelo talento de Marlon Brando. Num primeiro momento, ela se esqueceu de que a mesma Sicilia também serviu para que o cinema, melhor dizendo, Luchino Visconti, fosse motivado a realizar o seu premiado “O Leopardo” (vencedor da Palma de Ouro em Cannes, em 1963), com um elenco de primeira linha, que inclui Burt Lancaster, Alain Delon e Claudia Cardinale entre outros. Trata-se de uma adaptação do romance homônimo de Giuseppe Tomasi di Lampedusa.[i]


Um templo dórico em Marsala,
Associar a Sicilia com a máfia é puro preconceito ou desconhecimento do que é o lugar. Eu fui para a Sicilia bastante influenciada por um amigo italiano, que já viajou por toda a Itália, e que, ao voltar da ilha, me assegurou que, de todas as regiões, a mais linda era aquela. Inclusive mais bonita do que a Toscana, por certa sofisticação. Outros amigos, também italianos, reforçaram: a comida é fantástica, os doces são maravilhosos, a começar pelos famosos “canoles”, o azeite, as frutas, as amêndoas e os vinhos, tudo é muito bom. E, para completar, a mulher de um deles me confidenciou: os homens são muito belos.


um teatro grego em Siracusa
Pois bem, tudo isso são apenas as cerejas do bolo, pois o que realmente é fascinante na Sicilia, berço da civilização, é a sua história e cultura que remontam a muitos séculos antes de Cristo. Naquela ilha, apesar dos terremotos e erupções vulcânicas, se encontra um dos maiores patrimônios arqueológicos do mundo. Quando postei uma foto no Facebook, amigos pensaram que eu estava na Grécia ou no Egito.



Uma vila romana, 

Para ver tudo isso, eu teria que, praticamente, contornar a ilha situada bem na ponta da “bota” da Itália (a um quilômetro e meio de distância da região da Calábria) e o Norte da África (Marrocos e Tunísia). E como iria viajar sozinha, não dirijo, não falo italiano (apenas consigo me comunicar)[ii], aliado ao fato de as cidades não serem interligadas por trens e o serviço de ônibus ser de má qualidade, resolvi comprar um “pacote” chamado “Sicília Clássica”. A excursão permitiu-me rodar a ilha toda, inclusive chegar ao pé do vulcão Etna.[iii] Incluíram-me em um grupo de língua espanhola, basicamente formado por argentinos e espanhóis. Somente eu e uma portuguesa éramos as exceções. 
O mar mediterrâneo
O tempo foi curto para o “tamanho” da viagem. Em muitas localidades, como Palermo, Siracusa e Cefalu, o visitante sente que teria que permanecer por mais tempo. É quase uma maratona, pois, em poucos dias, visitamos Palermo, Monreale, Segesta, Marsala, Selinunte, Agrigento, Catania, Noto, Siracusa, Etna, Taormina, Messina e Cefalu. Se eu fosse fazer a viagem novamente, chegaria com pelo menos dois dias de antecedência a Palermo.[iv]

O volume de informações que a gente recebe é muito grande. Por uma sorte incrível, a guia que nos coube foi a competentíssima Claudia Di Iorio, uma italiana que fala um espanhol perfeito e tem profundo conhecimento da complicada temática da nossa excursão. A gente se comoveu com a grandiosidade do trabalho em mosaico na Catedral de Monreale, com as visitas a templos Dóricos, a Vila Romana del Casale[v] , o Barroco Siciliano de Noto e com a dimensão de nossa fragilidade ao nos postarmos aos pés de um vulcão ativo, e com muitíssimas outras coisas. Acho que o tempo maior de viagem em ônibus, entre uma cidade e outra, percorrendo estradas perfeitas (indescritíveis) foi de duas horas. A gente nem as via passar, pois Cláudia se incumbia de nos distrair com suas histórias (históricas ou não).

a cultura e a sofisticação de Palermo:
o tempo foi curto
Enfim, o que eu poderia dizer para as mulheres que viajam sozinhas e a quem mais interessar, é que a Sicilia é uma lindíssima região da Itália onde a crise não se percebe. Explicaram-me que é porque a economia da ilha se baseia na agricultura de base, e que exporta inúmeros produtos para o restante do País. É um lugar seguro, as pessoas são gentis, os homens realmente são belos, tudo isso sem falar no azul do mar: vale a pena conferir.[vi]







[i] Uma ótima dica de leitura ou DVD para quem pretende ir para a Sicilia. O filme é ambientado no final do século XIX. Outra dica é o livro “Um Sultão em Palermo”, de Tarik Ali.
[ii] Mesmo que soubesse falar, isso não resolveria muita coisa, sobretudo no interior, pois eles falam um dialeto completamente ininteligível para os próprios italianos.
[iii] Trata-se de um roteiro histórico, com predominância para as descobertas arqueológicas das antigas civilizaçãos (greco/romanas e árabes) e medievais.
[iv] Não fique menos de três dias.
[v] Luxuosa moradia e importante exemplo da época romana e onde se pode admirar os preciosos mosaicos que representam os usos e os costumes daquele tempo.
[vi] Não acho, contudo, que seja um “pacote” para mulheres de mais idade, pois trocamos muito de hotéis e, no caso de grupos, não podemos contar com ninguém para nos ajudar com as malas, mesmo que sejam de rodinhas. É cada um por si. Além do mais, algumas das visitas programadas incluem caminhadas por lugares íngremes e pedregosos, possibilitando o risco de quedas.



terça-feira, 15 de outubro de 2013

Aeroportos, o terror de uma viajante solitária.


O Aeroporto é o primeiro desafio, não apenas para uma mulher que viaja sozinha, principalmente para quem vai para fora do País. De repente, você aporta em um lugar completamente estranho, com dificuldade para falar a língua e/ou entender a sinalização, e aí? Se der um princípio de pânico, não se preocupe: é comum. E é por isso que vou lhes dar algumas dicas.

1- Se estiver viajando de férias, para relaxar, e não a negócios, altere a data da viagem, se for necessária uma conexão com menos de três horas de diferença entre o horário da chegada e o da partida seguinte. Talvez você tenha que apanhar a bagagem na esteira, entender a sinalização do aeroporto, passar pela alfândega, dar uma olhadinha no freeshop, coisas que podem consumir algum tempo.

O Aeroporto de Orly, pequeno e fácil de se locomover
 Minha amiga jornalista, Léa Penteado, diz que em Telaviv (Israel) eles pedem que o passageiro chegue com no mínimo três horas de antecedência, tal a minuciosidade na identificação e revista dos passageiros e suas respectivas bagagens, por motivos óbvios. Em Lisboa, se você não é um passageiro da comunidade europeia, provavelmente vai ter que enfrentar uma fila quilométrica na chegada e na saída. Eu nunca fiz conexão em Madri, mas alguns amigos me disseram que o aeroporto é muito complicado, assim como o Charles De Gaule, em Paris. Parece que em Berlim também não é muito fácil. Já em Roma, nunca tive problemas com aquele enorme aeroporto. A sua sinalização nos informa, inclusive, o tempo de duração de uma caminhada até determinado lugar.

2- Ao pisar em um aeroporto, se você está com tempo, em vez de sair correndo atrás dos outros, muita calma nessa hora: situe-se, identifique em qual nível ou plataforma está, olhe o placar com as informações sobre os horários dos voos e, então, comece o seu périplo, arrastando sua bagagem. Se estiver no aeroporto de Lisboa (que ficou enorme, depois da reforma), só peça informação em caso extremo, para não passar raiva. Eles vão dizer para você olhar nos placares ou procurar um guichê de informações (se alguém souber onde fica, por favor, me diga para que eu possa compartilhar).

3- A gente sabe que vários aeroportos, como o JFK, em Nova York, possuem conexão direta com linhas de metrô ou ônibus que lhe deixam em pontos estratégicos da cidade. Mas, se você é marinheiro de primeira viagem, não se arrisque. Já que está gastando, peça na sua agência de viagens um transfer de ida e volta para o Aeroporto. Nada melhor do que sair do portão de desembarque e ver alguém com uma plaquinha com seu nome, te esperando, e que vai lhe deixar direitinho no endereço certo, além de lhe ajudar com a bagagem. Comigo nunca falhou.

4- Por falar em bagagem, não tente utilizar aquele “jeitinho brasileiro” com relação ao peso da bagagem de mão, àquilo que pode ou não ser transportado, produtos proibidos de um país para outro. Eu tenho visto muita gente sendo obrigada a abrir suas malas na frente de todo mundo para acomodar o excesso da bagagem de mão, ou tendo produtos e objetos sendo recolhidos. Mico! Os equipamentos de raio X, hoje em dia, detectam tudo. É bom lembrar que, em caso de viagem ao exterior, você vai ter que passar pela fiscalização sem as botas, chapéus, echarpes, óculos escuros, lenços na cabeça, etc. Antes de se irritar, entenda que tudo isso é para a nossa própria segurança. Existem sapatos que possuem um metal no salto e podem acionar o alarme: não se preocupe, tire-os e passe elegantemente.

5- Finalmente, se possível, evite os aeroportos muito distantes, sobretudo se tiver que sair pela manhã do hotel, ou melhor, de madrugada. No caso de Paris, por exemplo, sempre opte pelo aeroporto de Orly.

6- Já ia me esquecendo: cuidado com essa mania de registrar tudo, postar cada momento de sua viagem. Em determinados lugares, você poderá se envolver em uma encrenca séria ao fotografar aeroportos ou aviões. Com segurança não se brinca, aquele trágico 11 de setembro não será jamais esquecido.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

À toa e sem culpa


Recentemente, uma seguidora do Blog lembrou-me de que desde maio passado eu não havia postado nenhum texto. É verdade, a última viagem que fiz foi à Patagônia, em novembro de 2012. Desde então, me mantenho estacionada em uma longa viagem, que se renova a cada dia, em um pequeno povoado, ao sul da Bahia, à beira mar. Apesar de meus amigos não acreditarem, eu vim sozinha e nessa condição permaneço. É que quando eu comuniquei a decisão de me estabelecer aqui, eles logo pensaram que a motivação seria algum possível “namorado”.

Encontrei paz e novas amizades
Eu havia viajado para cá algumas vezes e amei o lugar[i], fiz novas amizades, sempre que podia voltava, até que me aposentei. Foi quando percebi que na grande cidade, fora da minha rotina de trabalho, da relação social que esse trabalho proporciona, eu ficava mais solitária do que em um lugar pequeno, onde todos se conhecem, muitos estão na mesma situação (longe de suas cidades e parentes) e, obviamente, a gente gasta muito menos.

Aluguei uma casa deliciosa, com jardim e quintal (onde plantei uma horta), estou criando um gatinho (presente de uma amiga), me locomovo em uma bike, ou melhor, em um triciclo, leio, escrevo, caminho pela praia e tomo banhos de mar. Uma amiga conseguiu um projetor e promove sessões de cinema em seu jardim; quando quero conversar, encontro as pessoas em algum bar ou restaurante.

Uma vez por mês (aproveitando alguma promoção de passagem aérea) vou a Belo Horizonte me “atualizar” e visitar a família, ou quando consigo algum trabalho temporário. Enfim, a essas alturas de minha vida, me dei de presente um “ano sabático”[ii], para ficar à toa, e sem culpa. Quem me conhece, por unanimidade, diz que eu estou muito bem, mas, o importante é que eu estou me sentindo muito bem e, para não perder o costume de viajar sozinha, em breve vou para a Sicília (na Itália).

                                                     

 

 

 



[i] Ver postagem sobre Santo André, na Bahia.
[ii] Expressão usada para se referir ao ano que uma pessoa tira sem trabalhar, especialmente no mundo acadêmico,

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Embarque tranquila nessa viagem


Recentemente, recebi o e:mail (ou melhor, vários) de uma moça que se preparava para a primeira viagem solo. Ela estava bastante ansiosa, certa de que esqueceria alguma coisa de que fosse precisar. De nada adiantou eu sugerir que ela lesse o post com as dicas para que não se esquecesse de nada, pois a viajante não se acalmava e me perguntava: isso é normal?

Sim, isso é normal. Algumas pessoas, viajando sozinhas ou não, costumam desenvolver o stress pré viagem, sendo os sintomas mais frequentes o medo de esquecer alguma coisa importante, o medo de que alguma coisa ruim aconteça com seus familiares, o medo do avião cair, de se perder em alguma cidade desconhecida, de ser roubada, enfim, de que alguma coisa não dê certo.

Comigo isso também acontecia até o dia em que descobri que grande parte da minha tensão tinha origem na “culpa”, como se eu não merecesse proporcionar a mim mesma momentos de felicidade, que eu teria que pagar um preço por estar me divertindo e outros não. Só isso daria panos para mangas para um terapeuta, mas eu decidi enfrentar a situação por conta própria.

A primeira coisa que fiz foi começar a “viajar” bem antes do embarque, arrumando devagar a bagagem, lendo sobre os locais a serem viajados, conversando e pegando dicas com pessoas que já tinham feito o mesmo roteiro que eu pretendia fazer. Mas, o que mais acalma minha ansiedade são os aeroportos. São neles que minha viagem solitária começa. Chego com bastante antecedência, faço o check in com calma, percorro as lojas (eventualmente até compro alguma coisa), faço um lanche, tomo um café, folheio uma revista e, nesse processo, vou me desvencilhando da rotina que estou deixando, vou me encontrando comigo mesma e, quando vejo, lá estou eu tranquila, embarcando para qualquer lugar.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Bons motivos para comemorar


Olá amigas (e amigos também)

Talvez os resultados, em se tratando desse mundo virtual, não sejam considerados relevantes: 70 seguidores e quase 50 mil acessos, no mundo inteiro, em cerca de dois anos. Mas, para mim é muito! Muito mais do que eu esperava quando, timidamente, resolvi criar o blog mulherqueviajasozinha, com a ajuda de um estagiário, pois não tinha a menor ideia de como fazê-lo.

Vocês não imaginam a alegria que me dá quando abro minha correspondência eletrônica e lá encontro um e:mail relacionado ao Blog. Até hoje, nunca recebi qualquer mensagem agressiva, negativa. A maioria são de mulheres dispostas a enfrentar suas viagens, realizar sonhos, mesmo que sozinhas, para as quais o Blog foi um impulso. Yes, we can!

Outra coisa muito legal foi conhecer algumas de nossas seguidoras que, por coincidência, estavam no mesmo local que eu - no caso, a Vila de Santo André, na Bahia, onde tenho estado com frequência. Todas gostaram e uma delas até convenceu o marido a ir encontrar-se com ela. Posso apostar que ele a encontrou mais bela e segura.

Eu queria poder viajar mais, percorrer outras partes do mundo: não conheço nada da África, da Ásia, ou do conturbado mundo árabe. Mas, também, cheguei a uma idade em que aprendi que não é preciso ter tudo, ver tudo: o importante é procurar estar bem em tudo. Sendo assim, vou me permitir rever, quantas vezes possíveis, os lugares onde estive bem.

Uma coisa que gostaria muito (e que ainda não aconteceu) é que as pessoas, amigas, seguidoras também relatassem suas experiências, partilhassem dicas, tivessem no Blog um espaço de convivência, que contribuísse para superar as minhas limitações e possibilidades de viajar. Não se preocupem com o texto, pois, se for o caso, eu dou uma ajeitadinha. Enfim, vamos nessa!

Agradeço de coração a todos que enviaram seus comentários e mil desculpas àqueles aos quais eu não consegui responder. Proximamente, pretendo postar um texto sobre minha cidade (uma delas), que é Belo Horizonte. Agora que estou mais distante, posso vê-la melhor, com bons olhos.

Um abraço fraterno,

Giselle Nogueira