segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

XVII- Santo André: a Bahia sem Axé (music)

Um verdadeiro paraíso tropical
Milhares de pessoas adoram (e eu não desgosto totalmente), mas, essa mania que se expandiu para as praias de todo o Nordeste, que é a de tocarem Axé (e outros ritmos ditos afro-baianos), o dia inteiro, na maior altura, arranhando nossos ouvidos, martelando em nossa cabeça, é muito cansativo. Às vezes queremos relaxar, bater um papo tranqüilo, ler um bom livro, e não conseguimos. E se esse é o seu caso, um conselho é ir para Santo André, distrito de Santa Cruz de Cabrália, a cerca de uma hora, de carro, de Porto Seguro.
Talvez pela influência do grande número de europeus que se radicaram no local, a maioria constituída por italianos e franceses, Santo André é um lugar “cool”, uma certa sofisticação discreta, como afirmam alguns. Uma característica que, aliada à famosa tranqüilidade dos baianos, torna o lugar bastante acolhedor.
Pousada Jacumã
Existem muitas possibilidades de hospedagem, para todos os gostos e bolsos, com ênfase para aconchegantes pousadas. Procure alguma que fique mais próxima do centro da Vila, e também da praia[i]. Para facilitar seus deslocamentos, alugue uma bicicleta.
As praias são lindas, o mar é calmo, em alguns lugares forma verdadeiras piscinas. A comida é maravilhosa, como os acarajés do Recanto da Bahia; a peixada e o atendimento do Gaivota, comandado pelo garçom Gil, são de primeira qualidade; o Camarão Vitor Hugo, do Floridita, assim como o carpaccio de Badejo, combinação perfeita da comida oriental da chefe Mikie, com a cozinha regional. As massas do restaurante Jacumã, na pousada com o mesmo nome, também devem ser provadas.
Pier Cojimar, homenaagem a Hemingway
Uma boa dica é, ao final da tarde, tomar um drinque (como uma deliciosa caipirosca de cacau) em alguns dos bares localizados à beira do belo e caudaloso rio João de Tiba, como no Pier Cojimar[ii], também no Floridita. O proprietário, aficionado pela obra de Ernest Hemingway, criou um ambiente bem agradável para homenagear o escritor.
Uma excelente oportunidade de conhecer pessoas, e ainda cuidar do corpo, é se integrar ao grupo de hidroginástica no mar, comandado pela bailarina Marília. A professora permanece em Santo André durante os meses de julho, dezembro, janeiro e fevereiro. As aulas são diárias, às 10 horas da manhã e você paga o que achar razoável por aula. É uma ótima atividade!

Um dia de luz, em Santo André

No site da Associação Pro Cultura e Turismo Santo André-Bahia (http://www.santoandre-bahia.com/) você encontra todas as informações que precisa para fazer uma ótima viagem, inclusive sozinha. Chegando lá, não deixe de visitar o Atelier Maria Candeia, e conhecer as lindas luminárias de Joyce, em tecido pintado à mão. Para bijuterias, vá ao atelier Joias da Floresta, e se encante com as peças produzidas por Leide, segundo ela, uma mistura de criatividade, alto astral e muito amor. O resultado é muito bonito. Finalmente, no último dia, reserve espaço para uma esfoliação e hidratação corporal, se possível uma massagem com a fada Adriana.
Se você estiver com tempo e quiser dar aquele trato no cabelo, fazer um corte mais ousado, enfim, mudar o visual, tire uma tarde e vá ao Salão Milão, da italiana Pina: ela simplesmente arrasa! Fica em Porto Seguro, na praia Itaperapuã, em frente a Cabana Estrela do Mar.
Casa Praia
Em Santo André, reserve um bom tempo para curtir e desfrutar do conforto da Casa Praia, agora sob a impecável direção de Alê Batista. O lugar é lindo, os drinks são ótimos e a comida também é muito boa (não deixe de experimentar as saladas). Para você que está viajando sozinha, é um bom lugar para conhecer outras pessoas.


[i] Eu já fiquei duas vezes na Pousada Jacumã e gostei muito.
[ii] Aldeia de pescadores em Cuba, próxima de Havana, onde Hemingway ancorava seu barco e onde encontrou o personagem que lhe serviu de inspiração para escrever “O Velho e o Mar”.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

XVI- A primeira vez é inesquecível


Praia em João Pessoa
A primeira vez que viajei sozinha, de férias, poderia ter sido trágica. Nos meus tempos de militância política, eu cumpri algumas “missões” em outras cidades, quase sempre viajando desacompanhada. Quando me iniciei na carreira jornalística, também andei por aí sozinha, fazendo coberturas. Acontece, contudo, que, no jornal onde eu trabalhava, os editores davam preferência para que os repórteres que tinham filhos pequenos tirassem suas férias nos meses que coincidiam com o recesso escolar, ou seja, em julho ou em dezembro e janeiro. Sendo assim, eu nunca conseguia companhia para viajar, quando podia me ausentar do trabalho.
Pois bem, após meu primeiro ano com Carteira assinada, os chefes me autorizaram a tirar férias no mês de junho. Não me lembro mais porque, decidi passar 15 dias em uma praia, no Sul da Bahia. Uma longa viagem de ônibus, com duas baldeações, debaixo de uma chuva torrencial. Aliás, ninguém havia me informado que, nessa época do ano, costuma chover - e muito - no Nordeste, inclusive no litoral. O lugar, que hoje é um badalado ponto turístico, na época era praticamente uma aldeia, com apenas uma Pousada, onde me hospedei, e da qual, durante três dias, não arredei o pé. A chuva não dava trégua. Por sorte, eu havia levado bons livros, um dos quais a “Autobiografia de uma moça bem comportada”, de Simone de Beauvoir.
No quarto dia o sol saiu. Influenciada pela intelectual francesa, que cruzava a França sozinha, de bicicleta, decidi fazer uma longa caminhada pela praia. Preparei um lanche, coloquei uma garrafa de água na bolsa e saí, antes das 8 horas da manhã. Caminhei até a desembocadura do rio, há cerca de cinco quilômetros da vila, um lugar paradisíaco onde o encontro da água gelada do rio, com a temperatura morna do mar provocava uma sensação maravilhosa no corpo todo.
Após banhar-me, sentei-me sobre a toalha estendida na areia e, quando me preparava para fumar um cigarro, pressenti que alguém me observava, por detrás das dunas. Uma situação que, absolutamente, não estava prevista em nenhum livro que estava lendo. Dois pensamentos passaram imediatamente pela minha cabeça: eu tinha que agir rápido e não podia entrar em pânico. A aldeia, reduzida a minúsculos pontos cinza no horizonte, parecia mais longe que os cinco quilômetros que nos distanciavam. Eu não aguentaria correr até lá e, se tentasse, seria uma presa fácil. Não, pelas costas ninguém iria me derrubar. Então, com calma, enrolei a toalha na cintura, coloquei minhas coisas na sacola e saí andando, em passo aparentemente normal. Olhando de esguelha, eu via o topo de uma cabeça, por trás das dunas, me acompanhando, a pouco mais de dois metros. Em meio aos pedregulhos eu avistei um caco de vidro e abaixei-me, rapidamente, para apanhá-lo. Decididamente, eu não seria uma presa fácil.
Foi quando comecei a ouvir aquele barulho característico de pés rangendo a areia molhada, logo atrás de mim. Apertei mais o passo e vi, ao longe, muito longe, o vulto de um casal que caminhava em minha direção. A sensação de alívio parece que me energizou. De um impulso, virei e deparei-me, cara a cara, com aquele que me seguia, um mulato forte e atarracado. Com as pernas trêmulas, mas ainda aparentando calma, eu lhe perguntei de chofre:
- Você também gosta de caminhar?
O homem se assustou com aquela minha reação e, parece, naquele momento é que notou o casal que se aproximava. Saiu disparado em direção às dunas.
No dia seguinte voltou a chover. Arrumei minhas coisas e abreviei minhas férias. Sozinha, em praia deserta, nunca mais.

gnogueirabh@yahoo.com.br