domingo, 25 de novembro de 2012

As terras geladas da Patagônia

 Aqui é a terra do fim do mundo


Acabo de voltar de uma viagem à Patagônia argentina, mais especificamente a Ushuaia e a Calafate, nas províncias de Terra do Fogo e Santa Cruz, respectivamente. Pela primeira vez vou tentar escrever uma versão também em espanhol, melhor dizendo “portunhol”, atendendo às solicitações de minhas novas amigas argentinas (Cristina e Elizabeth – mãe e filha) e espanholas (Graciela e Alícia – irmãs) que conheci durante os passeios. Espero que elas e outras compreendam.

Essa foi uma viagem para a qual há mais de vinte anos eu me preparava, quando ainda não tinha dinheiro nem coragem para fazê-lo sozinha. Minha mãe, quando esteve na Rússia, chegou a trazer um lindo gorro preto, de pelo (usado agora, pela primeira vez), e também um xale comprido de lã, muito leve, mas que esquenta muito. De repente, há coisa de dois ou três meses, consultando alguns guias turísticos, ouvindo relatos de pessoas conhecidas, decidi que a hora era agora.

E o que dizer da viagem? Isso é quase impossível. Dizer que vi lugares e coisas maravilhosas, é pouco. Uma experiência mágica, transcendental, dizem alguns. Eu, não tenho palavras. Às vezes, diante de um enorme glacial, eu me sentia, realmente, frente ao altar de Deus, muito pequena diante desse nosso velho mundo.

Como eu intuía, foi uma viagem absolutamente tranquila e segura. Contratei os traslados do aeroporto ao hotel (e vice versa) em Buenos Aires e, tanto em Ushuaia quanto em Calafate, as empresas que nos recebem montam grupos fixos, de acordo com a localização dos hotéis, de forma que, no primeiro passeio, você já tem a oportunidade de se enturmar (ou não).

Um senão importantíssimo: os preços na Argentina estão proibitivos, mesmo para países cujas moedas estão mais valorizadas, como o Brasil. A velha rua Florida, em Buenos Aires, já não é mais aquela... Para se ter uma idéia, o preço médio de um cafezinho varia entre 13 e 16 pesos (R$6,50 a R$8,00), o mínimo que você pagará por uma latinha de cerveja é R$10,00. A entrada em um museu, sem nenhum dos recursos atualmente utilizados, me custou 90 pesos (R$45,00), um passeio, de meio dia, pelos glaciares, 800,00 pesos (R$400,00). Fazendo meus cálculos, eu conclui que, no caso dos brasileiros, é preferível comprar dólares no Brasil e trocar por pesos na Argentina (a, no mínimo, cinco por um); comprar os pesos no câmbio oficial ou pagar no cartão. Levar reais para trocar lá, não foi uma boa.

Ushuaia ou baía profunda
O porto, no Canal de Beagle

Minha viagem começou por Buenos Aires, o que não é necessário, pois, é possível viajar diretamente para Ushuaia, na Terra do Fogo, uma ilha que tem de um lado o Oceano Pacífico, do outro o Oceano Atlântico, ao Norte o Estreito de Magalhães[i] e ao Sul o Canal de Beagle[ii]. Acho que foi Charles Darwin, que alí se empenhou no desenvolvimento da sua teoria da evolução da espécie, quem alcunhou aquele local de “terra do fim do mundo”.

Cartaz dos aeroportuários do Atlântico Sul
Capital da província de Tierra del Fuego, Ushuaia é também considerada pelos argentinos como a capital das Ihas Malvinas. Seu nome, na linguagem dos habitantes primitivos, quer dizer “baía profunda”. Estima-se a região foi ocupada pelo homem há mais de 10.000 anos, e foi colonizada por europeus a partir de meados do século XIX, os quais instalaram missões para a catequização dos indígenas.

O crescimento da cidade se deu lentamente, a partir de 1902, quando foi iniciada a construção de um grande presídio, fato este que marcou muito a história do local. O presídio funcionou até 1947, quando foi fechado pelo presidente Juan Domingo Peron. Atualmente, a edificação abriga o Museu Marítimo e Ushuiaia, a cidade mais austral do mundo, ou a cidade do fim do mundo, é um importante centro turístico, responsável por uma significativa entrada de divisas para o País, pois recebe turistas de toda parte.

Uma filhore de lobo marinho faz pose 
Cormoranes, os pinguins que voam


No inverno, é possível a prática de esportes típicos da estação, como esqui, mas, em qualquer tempo, três passeios são indispensáveis: uma turnê pelas montanhas, chegando até ao lago Fagnano, avistando os Andes, no Chile; um passeio de barco pelo Canal Beagle, para conhecer as ilhas dos lobos (ou leões) marinhos e dos passáros, com seus pinguins e cormorões, e, finalmente, ao Parque Nacional. Nesse último caso, se for durante a primavera ou verão, dispense o “trenzinho” e faça caminhadas pelos lindos bosques, em contato direto com a vegetação e fauna da região: você não vai se arrepender. E respire! Encha seus pulmões com aquele ar puríssimo e frio e sinta a vida a lhe correr pelo sangue.

El Calafate, entre o gelo e as estepes

Cidade construída às margens do lindo e imenso Lago Argentino
El Calafate é uma pequena cidade localizada na província de Santa Cruz, próxima à fronteira com o Chile, com aproximadamente 5.500 habitantes, distante cerca de 270 Km de sua capital, Rio Gallegos, construída às margens do Lago Argentino. Em termos de história, o que se pode dizer é que está em uma região tradicionalmente ocupada por grandes estâncias, sobretudo de proprietários ingleses, dedicadas à criação de ovelhas. Foi também uma região marcada pela prospecção de petróleo, o que hoje não é mais permitido. A minha primeira impressão de El Calafate foi a de que se tratava de uma cidade cenográfica, tudo certinho, com apenas uma longa avenida dedicada aos bares, restaurantes e comércio.
O Glaciar Perito Moreno com mais de 60m.de altura sob o nível
do lago e 5km de extensão
A maior atração é o extraordinário Parque Nacional dos Glaciares, fundado em 1937 e declarado patrimônio da humanidade pela Unesco, em 1981. Possui extensão de 725 mil hectares. Nele se localizam os glaciares Perito Moreno, Upsala, O'nelli, Spegazzinni, entre outros. São imponentes sentinelas de neve depositados por séculos em suas origens, no alto da cordilheira dos Andes. Descem por extensões que chegam a 170 km. São formados basicamente de neve compactada, possuindo milhares de nuances do branco ao azul. Na sua maioria, terminam no lago Argentino, onde se fragmentam desde farelo de gelo a grandes icebergs, descendo lentamente pelo leito do lago até seu derretimento. Os glaciares movem-se até um metro por dia, atritando-se violentamente com o terreno, moldando-o e lançando no lago sedimentos finíssimos, que ficam em suspensão na água, formando o leite dos glaciares. [iii]

Próximo aos glaciares, a temperatura vai
abaixo de zero
Em qualquer época faz frio


Ushuaia tem um clima frio e úmido com bastante vento durante todo o ano. No inverno, que vai de junho a outubro, a temperatura varia de -6º C e 4º C e, no centro de Ski Cerro Castor a temperatura pode chegar a -15ºC. Entre os meses de outubro e março, a temperatura está mais quente e agradável, com temperatura média de 10oC. Nesta época, os dias ficam mais longos, com duração de até 18 horas. Esse período é ideal para se realizar trekkings e passeios de barco.  A pinguineira pode ser visitada entre os meses de dezembro e fevereiro, quando são registradas temperaturas que variam de 6ºC a 18ºC.[iv]El Calafate possui clima frio, com média anual de sete graus, temperaturas máximas por volta dos treze graus e mínimas por volta dos dez abaixo de zero.

Como vocês podem constatar, mesmo viajando no mês de novembro, eu peguei muito frio, sobretudo nos passeios de barco. O vento, quando a embarcação se aproxima dos icebergs ou glaciares, é literalmente gelado: queima o rosto e as mãos. Portanto, algumas dicas  específicas para o frio, para que a mala não fique muito pesada, em uma viagem pequena, em torno de oito dias (o importante é saber combinar tudo, dando maior versatilidade às roupas):[v]

1-      Para os pés: uma bota apropriada para andar na neve ou na chuva, impermeavel, forrada de lã[vi], três meias de algodão, uma palmilha de pele, um tênis de cano alto.

2-      Para as pernas: dois fusôs de malha grossa, uma meia calça grossa.

3-      Para o corpo: três blusas quentes, de manga comprida; dois xales de lã[vii], um chachecol, um casaco alcochoado ou similar (impermeável), tipo corta vento, um sweter de lã grossa, um casaco de cashemire.

4-      Para a cabeça: dois gorros de lã.

5-      Para as mãos: um par de luvas de lã ou couro.

6-      Um kit de roupa térmica: calças, blusa e luva[viii]
 
Minhas amigas amigas espenholas (Alícia e Graciela), seguiram de El Calafate para Bariloche e, de lá, iniciaram a aventura de chegar à Patagônia Chilena, atravessando os Andes em quatro ônibus e três barcos. Quando obtiver as informções que solicitei a elas, vou postar, pois, sei, é um passeio também fantástico.



[i] A primeira viagem documentada do homem branco ao extremo sul do continente americano foi realizada por Fernão de Magalhães em 1520, embora já tenha sido sugerido que o europeu já conhecia a região antes disso. De qualquer maneira, foi Magalhães quem deu o nome de Terra do Fogo à região, tendo avistado fogueiras acesas pelos índios nas margens do estreito que hoje leva seu nome. Wikpédia.
[ii] O canal deve seu nome ao navio britânico HMS Beagle, que fez parte de duas missões hidrográficas nas costas meridionais da América do Sul no início do século XIX, levando a bordo no naturalista Cherles Darwin. Trata-se de um estreito que separa as ilhas do arquipélago da Terra do Fogo, no extremo sul da América do Sul, e também o Chile da Argentina. Tem aproximadamente 240 km de comprimento, e sua largura mínima é de cerca de 5 km.
[iii] Wikpédia.
[iv] www.adventureclub.com.br.
[v] No meu caso, levei uma mala pequena, uma mochila pequena (na qual coloquei o casaco alcochoado e as botas, notebook, câmara fotográfica, etc.) e uma bolsa de mão.
[vi] Comprei uma bota de cano baixo, masculina, um número maior, por um preço ótimo, em uma loja que vende acessórios para montaria e hipismo.
[vii] Os xales protegem as costas e também o pescoço.
[viii] Essas roupas absorvem o suor, não ficam com  cheiro (podem ser usadas por até uma semana)  e devem ser usadas por baixo da roupa usual. Ao contrário, as segundas-pele ou meias de nylon, vão fazer que você se sinta gelada pelo suor. Você pode compra-las em lojas especializadas em esportes de inverno.

domingo, 4 de novembro de 2012

Sozinha, e daí?


Recentemente, por coincidência, encontrei uma mulher viajando sozinha, cuja iniciativa foi tomada por influência de nosso[i] blog. Ela e o marido haviam programado uns dias de férias, mas, na última hora ele roeu a corda. Ela, então, pela primeira vez, decidiu manter os planos, pois, no trabalho não teria outra oportunidade. “R” foi parar em Santo André, no sul da Bahia, onde eu me encontrava, e Simona, a dona da pousada onde ela estava hospedada, nos apresentou. Foi super legal!
Durante alguns dias, antes de sermos apresentadas, eu observei a moça caminhando só pela praia, em um lugar onde há pouco a se fazer, fora de temporada, mas ela não me parecia entediada. Quando nos conhecemos, ela me confessou que, no fundo, estava mesmo querendo curtir aqueles dias sozinha, acordar na hora que bem entendesse sem o marido apressando-a para que não perdesse a hora do café, a hora dos passeios, entre outras implicâncias frequentes em uma rotina de mais de 10 anos de casamento.
“Seu blog me deu força para que eu decidisse fazer essa viagem sozinha”, me disse “R”, assim como várias outras mulheres que nos escrevem, diariamente, ávidas de dar o primeiro passo. Aliás, alguns homens também estão nos escrevendo, e são até seguidores do Blog.
Mas eu tenho percebido, até por mim mesma, que um grande obstáculo para a mulher que quer viajar, ou sair sozinha, é a timidez. É quase que uma vergonha, introjetada sobretudo naquelas que já ultrapassaram a faixa dos 50 anos, no sentido de que estar só, sem uma companhia masculina, é sinal de que foi rejeitada, ficou pra titia, solteirona, coroa etc. Ou, então, está se oferecendo quando senta-se em um bar ou qualquer outro recinto público, desacompanhada.
 Por causa disso, eu fumei mais de 30 anos. Era sair à rua sozinha e acender um cigarro atrás do outro. O cigarro foi meu companheiro inseparável por três décadas e teria me matado se eu não tivesse parado com o vício a tempo. Afinal, o cinema, sobretudo, vendia a imagem de mulheres fortes, independentes, seguras, lindas, sempre com um cigarro na mão. Mas, graças a Deus, esses tempos, em todos os sentidos, já eram. E para que você se sinta bem, e não fique com aquela cara de quem está esperando alguém que não virá, aqui algumas dicas, inclusive bastante utilizadas pelos homens:
1-      Durante a viagem, deixe para atualizar seus e:mails nos bares ou restaurantes. Também pode “tuitar”. Nada de telefonemas, a não ser que seja realmente necessário. Leve seu pequeno notebook, tablet ou smartfone com você.
2-      Esteja acompanhada de um bom livro, jornal ou revista. Nada de livrinhos de palavras cruzadas ou similares.
3-      Fotografe! Escolha um tema e se dedique a ele: janelas, postes, pássaros etc. etc. Não fotografe crianças, em nenhuma hipótese, principalmente na Europa, pois poderá ser mal interpretada.
4-      Se for a um bar à noite, sente-se no balcão. No mínimo, você vai puxar um bom papo com o barman. Se for de manhã, ou à tarde, escolha uma mesinha do lado de fora e peça um café e uma taça de licor. O garçom vai achar você o máximo e irá tratá-la muito bem.
5-      Os bares com música ao vivo onde se toca jazz ou blues são muito intimistas e é possível que você encontre vários outros aficionados, de ambos os sexos, sozinhos.
6-      Use roupas e sapatos confortáveis, mais clássicos, nada que chame muita atenção. Faça o tipo despojado chique, nada de fazer como as americanas que saem para um passeio com roupas e tênis parecendo que vão disputar alguma Olimpíada. Um chapéu de palha masculino cai bem.
7-      Respeite, absolutamente, os costumes locais. Eu, por exemplo, chamei um motorista de táxi de “moço”, em Lisboa, e ele ficou ofendido, quase me colocou para fora do carro. A nossa informalidade brasileira às vezes incomoda.
8-      Finalmente, e principalmente, não se sinta como se fosse o centro das atenções, porque você não é. Você está apenas se divertindo sozinha, conhecendo outros lugares, outras pessoas (quando for o caso), ninguém tem nada com isso: boa viagem!


[i] Eu me refiro ao blog no plural, pois entendo que ele pertence a todas nós.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Arrume-se e vá passear


Estou me preparando para a minha próxima viagem: vou para a Patagônia. Há anos eu pretendia conhecer essa bela região, que tem também um componente de aventura, de contato com um mundo completamente diferente daquele com o qual estamos habituadas, com a possibilidade de inúmeros passeios em grupos, além do charme e do aconchego dos locais de hospedagem, próprios das estações de inverno. Mas, e você: já se decidiu para onde viajar? Qual o motivo da escolha? Quais são suas expectativas? O que sabe sobre o local escolhido?

A resposta a essas perguntas é fundamental para qualquer mulher que esteja pretendendo viajar sozinha, para que não acabe se frustrando. É preciso ter muito claro o que se pretende e, o fundamental, é estar bem consigo mesma. Nenhuma viagem vai resolver os problemas que estamos deixando para trás. Se você está meio baixo astral, ou mesmo deprimida, não parta para uma empreitada dessas. Se estiver querendo viajar porque afetivamente está sozinha, ou recém-separada, não vá com a pretensão única de esquecer o caso ou encontrar um substituto, pois as possibilidades de isso acontecer são remotas (ainda que não impossíveis). Viaje linda, leve, solta e livre, porque você assim o quer. Não queira provar nada a ninguém. Se arrume e vá passear.

Nós vivemos em um país ainda muito conservador com relação às mulheres, principalmente aquelas que já saíram ou estão saindo da faixa etária considerada jovem. Fora do Brasil e estando sozinha, certamente, você terá que fazer coisas que não está acostumada, como, por exemplo, entrar em um bar ou restaurante desacompanhada e pedir um drink. Você não precisa tomar um café, quando está doida para tomar um vinho ou uma cerveja bem gelada. Quando isso lhe parecer um problema, quando se preocupar com o que os outros vão pensar, aperte sua bolsa e pense em quem paga suas contas. Ou, então, pense se você não merece tal presente.

Para viajar sozinha, é preciso uma boa dose de serenidade. Serenidade para enfrentar os possíveis problemas, para evitar situações desagradáveis ou inseguras, para caminhar pelas ruas com tranquilidade, sem stress (você não é obrigada a cumprir qualquer roteiro). É preciso serenidade para voltar ao hotel, com os pés cansados, encher a banheira, preparar um drinque e relaxar. Pedir o jantar na varanda do quarto, brindar à sua própria felicidade, e se preparar para o dia seguinte que, certamente, será lindo. Boa viagem, amiga!

 

domingo, 19 de agosto de 2012

Um anjo que me protege, um guia que me orienta


Recentemente, fui entrevistada por uma repórter da Editora Saraiva, Carolina Cunha, para uma reportagem sobre guias de viagem. Eu sempre gosto de levar na bagagem algum livro, um bom romance, ambientado nos lugares aonde pretendo passar mais tempo, mas, concordo com os demais entrevistados de que ter um bom guia à mão é fundamental. “Além do espírito aventureiro, a melhor companhia para quem viaja sozinho são os guias de viagens. Neles, o viajante independente que busca desbravar o mundo sempre pode encontrar dicas preciosas e atrações pinceladas por observadores experientes”, explica a jornalista.
Sendo assim, aqui vão algumas dicas recomendadas pelos entrevistados do site da Saraiva, pela própria editora e por mim, sempre lembrando que não tenho nenhum interesse comercial com meu blog. Meu objetivo é apenas o de que possamos fazer, sempre, ótimas viagens.
·         Guias de bolso da Lonely Planet.[1]
·         Guias da editora Laselva.
·         Guias do jornal Folha de São Paulo.
·         Guias Criativos para o Viajante Independente.
·         Próxima Estação, Paris, de Lorànt Deutsch.
·         Sozinha Mundo Afora, de Mari Campos.
·         De Malas Prontas, Danusa Leão.
·         Frommers Europa.
·         Rough Guide Directions.
·         Minha Nova York, Didi Wagner.
Como lembra a jornalista Carolina Cunha, esses guias, em geral, dão dicas sobre hospedagens, restaurantes, meios de transporte, documentos, segurança, história e cultura local. Eu acrescentaria, também, a importância de se levar um dicionário de bolso, caso você não domine o idioma local. E, ainda que no Brasil a opção GPS “caminhar à pé” não seja muito usada, ao contrário da Europa, onde já virou moda, não custa nada você testar essa funcionalidade no seu smartphone. Essa é apenas uma sugestão, pois eu adoro me localizar pelos mapas de viagem impressos.


[1] Segundo a repórter, são os guias preferidos pelos mochileiros “que apostam em destinos sem mordomias e dicas menos convencionais.” Trata-se do guia turístico mais vendido no mundo, oferecendo 500 títulos em várias línguas.



[1] A reportagem pode ser encontrada no site da Editora Saraiva (Conteúdo).

domingo, 12 de agosto de 2012

Não se assuste se o belo for insuportável

Síndrome de Stendhal: é possível que muitas de vocês não saibam do que se trata, mas, é importante que reconheçam seus sintomas, principalmente se estiverem viajando sozinhas, para que não fiquem assustadas.
Eu tive duas crises, na primeira vez que viajei à Itália, em Florença e Milão, ao visitar os imponentes Duomos  (catedrais) de ambas as cidades. Nas duas ocasiões, senti taquicardia, tonteiras, boca seca, enfim, um tremendo mal estar. Cheguei a pensar que estava enfartando. Porém, por incrível que pareça, logo que eu me afastava dos locais, tais sintomas desapareciam. Ao regressar ao Brasil, por coincidência, assisti na televisão ao filme de Dario Argento, “Síndrome de Stendhal” (1996), e, só então, fui entender o que havia acontecido comigo.
De acordo com a Wikipédia,  Síndrome de Stendhal é uma doença psicossomática bastante rara, caracterizada por aceleração do ritmo cardíaco, vertigens, falta de ar e mesmo alucinações, decorrentes do excesso de exposição da pessoa a obras de arte, sobretudo em espaços fechados. O nome da síndrome se deve ao escritor francês Stendhal que, tendo sido acometido dessa perturbação, em 1817, quando visitava Florença, fez a primeira descrição detalhada dos seus sintomas os quais, em alguns casos, se assemelha ao pânico.
O maravilhoso Duomo de Milano
Em 1989, a psiquiatra italiana Graziella Magherini, após catalogar 106 casos de pacientes (todos eles em viagem à Florença pela primeira vez), no serviço de saúde mental do Hospital de Santa Maria Nova (Florença), descreveu e nomeou esta síndrome que acomete aqueles mais sensibilizados pela arte. É o belo insuportável, como descrevem alguns psicanalistas, como Contardo Calligaris, para quem a Síndrome consiste em reagir com emoções “excessivamente” fortes diante das obras de artes e de sua beleza.
Para um dos mais conhecidos profissionais ligados ao campo do esoterismo de Milão, contudo, as pessoas reagem dessa forma quando visitam lugares onde estiveram em vidas passadas. Da minha parte, eu acredito em tudo.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Memória das cidades


Não sei se isso acontece com todo mundo, acredito que sim, de chegar a uma cidade pela primeira vez e ter a sensação de que já esteve lá, ou que poderia viver naquele lugar, para sempre. Cidades como o Rio de Janeiro - onde aportei pela primeira vez em 1968 -, Veneza, Paris, Lisboa, Havana e, mais recentemente, o pequenino povoado de Santo André, fundando entre o caudaloso rio João do Tiba e o mar do Sul da Bahia, em sua performance mais azul, tranquila e caliente. Meu Deus, o que é aquilo!
Essa sensação eu não tive em outras tantas e lindas cidades visitadas, no Brasil ou fora daqui. Comecei, então, tentar entender o porquê dessa identidade com cidades tão distintas, histórias, linguagens, climas, culturas... Em todas elas eu estive sozinha. À Santo André, a primeira viagem foi em companhia de amigos. Porém, assim que retornei, tive uma vontade incontida de voltar, absolutamente desacompanhada, e (re)encontrar o lugar com meus próprios olhos, meus próprios sentimentos. Enfim, na terceira viagem àquele lugar, já estava com uma casinha alugada, e praticamente mobiliada.
De tanto pensar, acabei descobrindo, durante a experiência de uma mulher que viaja sozinha, carregando suas malas, fazendo suas próprias escolhas, aqueles lugares que tocaram fundo minha alma, aonde, penso, aprendi a ser só. Lugares onde, admirando a paisagem, entre um café ou um drinque, fui feliz: um chope e o por do sol em um bar no Arpoador, no Rio de Janeiro; um expresso com creme na Piazza San Marcos, em Veneza; uma taça de “portô rouge”, em um café na beira do Sena, em Paris; a cerveja gelada no fim da tarde, no miradouro de Santa Catarina, em Lisboa; o trago de rum no calçadão do Malecon, em Havana e, finalmente, um espumante de frente pro mar de Santo André, na Bahia.
Esses foram momentos de pura felicidade, nenhuma culpa ou (pré)conceito. Vou seguir em frente, sozinha, ser for o caso.   

domingo, 19 de fevereiro de 2012

XVIII- Não se esqueça de nada

Nada mais chato em uma viagem do que quando a gente percebe que esqueceu alguma coisa. Para evitar que isso aconteça, fiz uma lista permanente com vários itens,  os quais vou percorrendo na hora de arrumar a mala. Isso não quer dizer, é claro, que sempre tenhamos que incluir todos eles. Vamos lá!

1-     remédios
2-     bijouterias
3-     bolsas e cintos
4-     roupas e produtos para praia (maiôs, biquínis, cangas, saídas, protetor solar, etc).
5-     roupas para noite
6-     roupas para o dia[1]
7-     Produtos de maquiagem, cosméticos e perfume[2].
8-     Sandálias, sapatos e meias.
9-     Higiene pessoal (sabonete, shampoo, condicionador, desodorante, escova e pasta de dentes, etc).
10-  Roupa íntima e roupa para dormir.
11- Echarpes e xales
12-  Produtos e acessórios para os cabelos (pente, escova, grampos, prendedores etc.)
13-  Chapéus
14- Livro
15-  Documentos, reservas, passagens, cartões e dinheiro.
16-  Óculos e lentes
17-  Eletrônicos (note book, câmera, celular e respectivo carregador)



[1] Sempre leve na bagagem de mão, mesmo que estiver no verão, um casaquinho ou xale. Nos aeroportos ou dentro dos aviões podemos passar frio por causa do ar condicionado.
[2] Coloque os produtos cujos recipientes não forem fechados com tampas de rosca em um saquinho de plástico para evitar que eles se abram e façam um estrago em sua nécessaire.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

XVII- Santo André: a Bahia sem Axé (music)

Um verdadeiro paraíso tropical
Milhares de pessoas adoram (e eu não desgosto totalmente), mas, essa mania que se expandiu para as praias de todo o Nordeste, que é a de tocarem Axé (e outros ritmos ditos afro-baianos), o dia inteiro, na maior altura, arranhando nossos ouvidos, martelando em nossa cabeça, é muito cansativo. Às vezes queremos relaxar, bater um papo tranqüilo, ler um bom livro, e não conseguimos. E se esse é o seu caso, um conselho é ir para Santo André, distrito de Santa Cruz de Cabrália, a cerca de uma hora, de carro, de Porto Seguro.
Talvez pela influência do grande número de europeus que se radicaram no local, a maioria constituída por italianos e franceses, Santo André é um lugar “cool”, uma certa sofisticação discreta, como afirmam alguns. Uma característica que, aliada à famosa tranqüilidade dos baianos, torna o lugar bastante acolhedor.
Pousada Jacumã
Existem muitas possibilidades de hospedagem, para todos os gostos e bolsos, com ênfase para aconchegantes pousadas. Procure alguma que fique mais próxima do centro da Vila, e também da praia[i]. Para facilitar seus deslocamentos, alugue uma bicicleta.
As praias são lindas, o mar é calmo, em alguns lugares forma verdadeiras piscinas. A comida é maravilhosa, como os acarajés do Recanto da Bahia; a peixada e o atendimento do Gaivota, comandado pelo garçom Gil, são de primeira qualidade; o Camarão Vitor Hugo, do Floridita, assim como o carpaccio de Badejo, combinação perfeita da comida oriental da chefe Mikie, com a cozinha regional. As massas do restaurante Jacumã, na pousada com o mesmo nome, também devem ser provadas.
Pier Cojimar, homenaagem a Hemingway
Uma boa dica é, ao final da tarde, tomar um drinque (como uma deliciosa caipirosca de cacau) em alguns dos bares localizados à beira do belo e caudaloso rio João de Tiba, como no Pier Cojimar[ii], também no Floridita. O proprietário, aficionado pela obra de Ernest Hemingway, criou um ambiente bem agradável para homenagear o escritor.
Uma excelente oportunidade de conhecer pessoas, e ainda cuidar do corpo, é se integrar ao grupo de hidroginástica no mar, comandado pela bailarina Marília. A professora permanece em Santo André durante os meses de julho, dezembro, janeiro e fevereiro. As aulas são diárias, às 10 horas da manhã e você paga o que achar razoável por aula. É uma ótima atividade!

Um dia de luz, em Santo André

No site da Associação Pro Cultura e Turismo Santo André-Bahia (http://www.santoandre-bahia.com/) você encontra todas as informações que precisa para fazer uma ótima viagem, inclusive sozinha. Chegando lá, não deixe de visitar o Atelier Maria Candeia, e conhecer as lindas luminárias de Joyce, em tecido pintado à mão. Para bijuterias, vá ao atelier Joias da Floresta, e se encante com as peças produzidas por Leide, segundo ela, uma mistura de criatividade, alto astral e muito amor. O resultado é muito bonito. Finalmente, no último dia, reserve espaço para uma esfoliação e hidratação corporal, se possível uma massagem com a fada Adriana.
Se você estiver com tempo e quiser dar aquele trato no cabelo, fazer um corte mais ousado, enfim, mudar o visual, tire uma tarde e vá ao Salão Milão, da italiana Pina: ela simplesmente arrasa! Fica em Porto Seguro, na praia Itaperapuã, em frente a Cabana Estrela do Mar.
Casa Praia
Em Santo André, reserve um bom tempo para curtir e desfrutar do conforto da Casa Praia, agora sob a impecável direção de Alê Batista. O lugar é lindo, os drinks são ótimos e a comida também é muito boa (não deixe de experimentar as saladas). Para você que está viajando sozinha, é um bom lugar para conhecer outras pessoas.


[i] Eu já fiquei duas vezes na Pousada Jacumã e gostei muito.
[ii] Aldeia de pescadores em Cuba, próxima de Havana, onde Hemingway ancorava seu barco e onde encontrou o personagem que lhe serviu de inspiração para escrever “O Velho e o Mar”.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

XVI- A primeira vez é inesquecível


Praia em João Pessoa
A primeira vez que viajei sozinha, de férias, poderia ter sido trágica. Nos meus tempos de militância política, eu cumpri algumas “missões” em outras cidades, quase sempre viajando desacompanhada. Quando me iniciei na carreira jornalística, também andei por aí sozinha, fazendo coberturas. Acontece, contudo, que, no jornal onde eu trabalhava, os editores davam preferência para que os repórteres que tinham filhos pequenos tirassem suas férias nos meses que coincidiam com o recesso escolar, ou seja, em julho ou em dezembro e janeiro. Sendo assim, eu nunca conseguia companhia para viajar, quando podia me ausentar do trabalho.
Pois bem, após meu primeiro ano com Carteira assinada, os chefes me autorizaram a tirar férias no mês de junho. Não me lembro mais porque, decidi passar 15 dias em uma praia, no Sul da Bahia. Uma longa viagem de ônibus, com duas baldeações, debaixo de uma chuva torrencial. Aliás, ninguém havia me informado que, nessa época do ano, costuma chover - e muito - no Nordeste, inclusive no litoral. O lugar, que hoje é um badalado ponto turístico, na época era praticamente uma aldeia, com apenas uma Pousada, onde me hospedei, e da qual, durante três dias, não arredei o pé. A chuva não dava trégua. Por sorte, eu havia levado bons livros, um dos quais a “Autobiografia de uma moça bem comportada”, de Simone de Beauvoir.
No quarto dia o sol saiu. Influenciada pela intelectual francesa, que cruzava a França sozinha, de bicicleta, decidi fazer uma longa caminhada pela praia. Preparei um lanche, coloquei uma garrafa de água na bolsa e saí, antes das 8 horas da manhã. Caminhei até a desembocadura do rio, há cerca de cinco quilômetros da vila, um lugar paradisíaco onde o encontro da água gelada do rio, com a temperatura morna do mar provocava uma sensação maravilhosa no corpo todo.
Após banhar-me, sentei-me sobre a toalha estendida na areia e, quando me preparava para fumar um cigarro, pressenti que alguém me observava, por detrás das dunas. Uma situação que, absolutamente, não estava prevista em nenhum livro que estava lendo. Dois pensamentos passaram imediatamente pela minha cabeça: eu tinha que agir rápido e não podia entrar em pânico. A aldeia, reduzida a minúsculos pontos cinza no horizonte, parecia mais longe que os cinco quilômetros que nos distanciavam. Eu não aguentaria correr até lá e, se tentasse, seria uma presa fácil. Não, pelas costas ninguém iria me derrubar. Então, com calma, enrolei a toalha na cintura, coloquei minhas coisas na sacola e saí andando, em passo aparentemente normal. Olhando de esguelha, eu via o topo de uma cabeça, por trás das dunas, me acompanhando, a pouco mais de dois metros. Em meio aos pedregulhos eu avistei um caco de vidro e abaixei-me, rapidamente, para apanhá-lo. Decididamente, eu não seria uma presa fácil.
Foi quando comecei a ouvir aquele barulho característico de pés rangendo a areia molhada, logo atrás de mim. Apertei mais o passo e vi, ao longe, muito longe, o vulto de um casal que caminhava em minha direção. A sensação de alívio parece que me energizou. De um impulso, virei e deparei-me, cara a cara, com aquele que me seguia, um mulato forte e atarracado. Com as pernas trêmulas, mas ainda aparentando calma, eu lhe perguntei de chofre:
- Você também gosta de caminhar?
O homem se assustou com aquela minha reação e, parece, naquele momento é que notou o casal que se aproximava. Saiu disparado em direção às dunas.
No dia seguinte voltou a chover. Arrumei minhas coisas e abreviei minhas férias. Sozinha, em praia deserta, nunca mais.

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