quarta-feira, 2 de novembro de 2011

XIII- Fantasias sobre mulheres que viajam sozinhas - 1

Eu tenho percebido, ou melhor, intuído, que uma parte considerável dos visitantes do meu blog pertence ao sexo masculino. Um dia desses mesmo, um “anônimo” fez uma correção em um de meus textos, mas o fez de maneira tão sucinta e direta que concluí: só pode ser um homem.[1]
Algumas vezes percebo, entre os amigos, certa curiosidade maliciosa quando perguntam: vai viajar soziiiinha? Ou, então, na volta, impacientes com tantas fotografias, ao se depararem com alguma em que eu apareço, a pergunta é inevitável: quem tirou a foto? Para alimentar ainda mais a fantasia que, eu sei, perpassa pela cabeça de muitos deles, vou contar algumas histórias que podem ter acontecido comigo ou com outras mulheres, deixando a cada um a deliciosa possibilidade de concluir com um final feliz (ou não).

Homens japoneses viajam sós
1º tempo
A viagem no TGV até Nice, na Cote d’Azur, duraria pouco mais de duas horas. Ela entrou no trem meio atabalhoada, deixou a mala no compartimento próprio para as bagagens, e foi, desajeitada, carregando uma mochila, duas sacolas e uma bolsa a tiracolo, em busca do seu lugar: a poltrona 22. Quando encontrou, as duas fileiras de poltronas estavam dispostas uma frente à outra: duas moças, japonesas, de frente para um homem, também japonês, que ocupava a poltrona 21. E ele, imediatamente, levantou-se para ajudá-la a acomodar suas coisas, permitindo que ela constatasse que ele era bem mais alto que a média dos japoneses que conhecia.
As duas moças conversavam sem parar, os olhos atentos à paisagem e, às vezes, dirigiam a palavra ao rapaz, talvez lhe perguntando alguma coisa. Ele respondia (ela supunha, pois não entendia nada daquela estranha língua), mas, logo voltava sua atenção para o livro que tinha nas mãos. A algazarra feita por um grupo de rapazes nórdicos, amontoados no fundo do vagão, torcedores de algum time de futebol, impedia que ela dormisse um pouco, embalada pelo movimento contínuo do trem. Impaciente, ela levantou-se e saiu à procura do carro-restaurante.
Ela pediu uma pequena garrafa de vinho tinto, sentou-se de lado no balcão, tirou um bloquinho de papel do bolso, e começou fazer algumas anotações. Quando levantou a cabeça, ela o viu de costas pedindo um “expresso” ao garçom. Tempo suficiente para que percebesse que aquele homem de ombros largos, com os cabelos pretos e muito lisos amarrados na nuca - como um samurai -, estava absolutamente impecável em sua jaqueta de camurça castor, na calça jeans desbotada que lhe realçava os músculos das coxas, nos mocassins, os quais, como tudo o mais, denunciavam que, por trás daquela aparência despojada, se escondia uma boa quantidade de Euros (ou de Yenes). Ele virou-se e surpreendeu-a observando-o. Sorriu, e ela respondeu com um sorriso, timidamente. Ele terminou o café e voltou para seu lugar. Faltavam poucos minutos para a chegada.
Mais uma vez ele ajudou-a com a bagagem, mas, ela mal teve tempo de agradecê-lo, em meio àquela agitação característica dos embarques e desembarques nos trens, com tempo curto e cronometrado. Já na plataforma, ela o viu se afastando na companhia das duas moças, enquanto ela procurava, entre os inúmeros presentes, alguém que estivesse portando uma plaquinha na qual estivesse escrito seu nome.
2º tempo
Ela chegou à cidade por volta das 17 horas. Deixou suas coisas no hotel e saiu, rapidamente. Tinha pouco tempo a perder naquela linda cidade, e queria, principalmente, ver o mar (azul) antes que o sol se pusesse. Apenas trocou o sapato fechado por uma sandália rasteira, conferiu se a máquina fotográfica estava na bolsa, e tomou seu rumo de viajante solitária. Quando atravessou a avenida, e pisou no calçadão que beira a orla, ela os encontrou.
Eles, as duas moças e ele, estavam abraçados, de costas para o mar, enquanto um deles se esforçava, com o braço esticado, para fazer uma foto do trio. Foi quando ela se aproximou e, em uma linguagem que mesclava a mímica e o inglês (minglês?), perguntou se eles gostariam que ela tirasse a foto. Ela fez várias fotos, com uma máquina sofisticada que não conseguiria descrever. Em seguida, eles se ofereceram para fotografá-la, e ela entregou a ele a sua pequena e tímida câmera, primeira geração das digitais. Já estavam enturmados.
Em pouco tempo ela ficou sabendo que ele era arquiteto e dava aulas em uma universidade de Barcelona, na Espanha. Uma das moças era sua irmã, geóloga, e viera, na companhia de uma amiga (melhor dizendo, namorada) participar de um congresso em Paris. Aproveitaram para dar uma esticada pelo sul da França, e ele foi encontrá-las em Avignon. Dali, elas retornariam ao Japão e ele, que estava de férias, pretendia seguir viagem (só) até a Itália. Os três falavam inglês, impecavelmente.
Ela não sabe porque, naquela noite, não aceitou o convite para o jantar. Talvez porque estivesse se sentindo um pouco demais. Mas, aceitou acompanhá-los, no dia seguinte, em alguns passeios nas imediações da cidade. Ele havia alugado um carro e iria buscá-la às 10 da manhã. E o dia foi fantástico! Almoçaram sob as árvores em uma pequena vila, subiram uma montanha até um castelo medieval, experimentaram vinhos deliciosos e retornaram ao final da tarde. Ao deixá-la, na porta do hotel, ele disse:
- Essa noite, você não vai recusar meu convite para jantar...

E:mail: gnogueirabh@yahoo.com.br


[1] Ele escreveu : É FNAC... não FENAC.