sábado, 17 de dezembro de 2011

XV- Atitude, pra viajar só

Viajar sozinha é uma questão de atitude, como hoje se diz. No meu caso, pode parecer mais fácil, pois, há anos eu vivo sozinha. Mesmo nos tempos em que, por 14 anos, eu tive um companheiro estável, nossa opção foi viver em casas separadas e, seguramente, por isso estivemos tanto tempo juntos e, hoje, somos ótimos amigos.
Eu posso dizer que sempre fiz minhas compras (inclusive supermercado) sozinha, sempre peguei táxi sozinha, sempre preferi ir ao cinema sozinha (sem ninguém comentando o filme a meu lado), sempre fui ao médico sozinha, sempre tive meus medos, sozinha. Isso não quer dizer que eu seja uma pessoa solitária, pelo contrário. Adoro estar com as pessoas, se possível, viajar ou sair com elas, mas sem qualquer tipo de dependência. Se me der na telha, se encher o saco, pego minha bolsinha e bye, bye. Não tive filhos (não por opção), de forma que hoje, já na maturidade, tenho mais é que contar comigo. E, se os tivesse, como disse no primeiro texto, a última coisa que eles iriam querer, era carregar a “mala” da mãe.
Eu tenho medo de avião, e também de estrada, e também de navio. Eu tenho medo de passar mal no hotel, sozinha. Tenho medo de ser assaltada, de roubarem meus documentos. Tenho medo de não saber me comunicar. Então, com relação ao inevitável, eu entrego pra Deus; me apego a tudo quanto é santo. Com relação a mim mesma, eu fico esperta, e acho que qualquer mulher pode ficar, ou, pelo menos tentar.
Eu digo isso por que fico observando minha mãe, uma mulher corajosa, guerreira, atualmente com 93 anos, que nos criou (eu, minha irmã e um irmão com síndrome de Down) praticamente sozinha. Quanto mais a observo, já naquela idade em que a perspectiva de futuro mais certa é... (prefiro não dizer), eu penso em como a vida é curta, a passagem do tempo é irreversível, as perdas são definitivas. Definitivamente, não temos tempo a perder para a alegria, para o prazer, para as descobertas, para o ser feliz, sem medo. No mais, uma boa viagem!

email: gnogueirabh@yahoo.com.br

domingo, 13 de novembro de 2011

XIV- Fantasias 2

Por que não?
Primeiro tempo
Ela chegou ao hotel e foi direto para o bar. Jogou o chapéu e as sacolas de compras sobre uma poltrona e, praticamente, desabou em outra. Havia caminhado o dia inteiro, subindo e descendo ladeiras, os pés estavam em carne viva. Não resistiu e tirou os sapatos, mas se conteve ante a vontade irresistível de esticar os pés sobre a mesinha de centro, repleta de folhetos de turismo. Não tinha ânimo para nada, mas sabia que precisava, urgentemente, de um drink, forte o suficiente para fazê-la relaxar.
Sem que ela fizesse qualquer sinal, o barman aproximou-se com o cardápio nas mãos. Ela conferiu as opções e pediu um Havana Club (Añero Reserva). O rapaz, um mulato forte, de olhos amarelados como os de um gato e um enorme sorriso, então lhe perguntou:
- Você gosta dos cubanos?
E, diante do olhar confuso que ela lhe devolveu, ele logo completou:
- Estou me referindo ao rom, cubano...
Mais uma vez ele quase engoliu o b, de cubano, dando a ela a certeza de sua proveniência, deixando-a curiosa por saber como e porque havia deixado seu país de origem.
- Ah, sim – ela respondeu. - No Brasil é difícil encontrá-los.
- Você parece cansada, andou muito?
- O dia inteiro, mal parei para fazer um lanche. É tudo tão bonito e, para nós, brasileiros, é como se estivéssemos fazendo uma viagem por nossa própria história...
- Você vai ficar muitos dias? Eu poderia lhe indicar alguns lugares que considero imperdíveis...
- Eu ainda não sei - interrompeu-o.
Pela primeira vez, naquele dia, ela havia se dado conta de que, pela primeira vez na vida, estava fazendo uma viagem sozinha. Havia deixado para trás um ex-marido intrigado, dois filhos adultos perplexos, e iniciado aquela verdadeira aventura solitária cujo roteiro começava ali, em Lisboa.
– Talvez fique mais uns dois ou três dias, quem sabe?
Ela ainda tinha tempo para se decidir, ligar para sua agente de turismo no Brasil e confirmar as reservas feitas em hotéis de Madri e Paris. Terminou seu drinque e subiu; preparou um banho morno; pediu o jantar no quarto: apenas uma salada.

Segundo tempo:
No dia seguinte, voltou de suas andanças por volta das sete horas da noite. O cubano lá estava em seu posto no bar e foi, então, que ela notou o quanto ele era atraente. Não estava tão cansada como no dia anterior, havia tomado algumas providências. Pelo menos umas três vezes havia parado para tomar um café ou almoçar, e também havia trocado os sapatos fechados por uma sandália rasteira. Visitou todos os lugares que ele havia lhe indicado e se descobriu ansiosa por partilhar suas impressões. Mas, ele estava ocupado com outros hóspedes. Serviu-lhe a mesma dose do rom cubano, mas não se deteve. Ela terminou o drinque e subiu, preparou um banho morno e pediu um jantar no quarto: apenas uma salada.
Qual não foi sua surpresa ao abrir a porta para o camareiro e se deparar com ele, pedindo permissão para entrar no quarto e depositar a bandeja sobre a mesa. Ela foi assaltada por sentimentos e sensações que há muito (há muito tempo, mesmo) não experimentava. Não sabia o que fazer, muito menos o que dizer. Foi quando ele lhe disse.
- Amanhã é meu dia de folga. Eu gostaria de lhe convidar para jantar. Um lugar simples, mas onde se faz o melhor bacalhau da cidade: você aceita?
Ela vacilou por um segundo, mas, logo em seguida pensou: por que não?

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

XIII- Fantasias sobre mulheres que viajam sozinhas - 1

Eu tenho percebido, ou melhor, intuído, que uma parte considerável dos visitantes do meu blog pertence ao sexo masculino. Um dia desses mesmo, um “anônimo” fez uma correção em um de meus textos, mas o fez de maneira tão sucinta e direta que concluí: só pode ser um homem.[1]
Algumas vezes percebo, entre os amigos, certa curiosidade maliciosa quando perguntam: vai viajar soziiiinha? Ou, então, na volta, impacientes com tantas fotografias, ao se depararem com alguma em que eu apareço, a pergunta é inevitável: quem tirou a foto? Para alimentar ainda mais a fantasia que, eu sei, perpassa pela cabeça de muitos deles, vou contar algumas histórias que podem ter acontecido comigo ou com outras mulheres, deixando a cada um a deliciosa possibilidade de concluir com um final feliz (ou não).

Homens japoneses viajam sós
1º tempo
A viagem no TGV até Nice, na Cote d’Azur, duraria pouco mais de duas horas. Ela entrou no trem meio atabalhoada, deixou a mala no compartimento próprio para as bagagens, e foi, desajeitada, carregando uma mochila, duas sacolas e uma bolsa a tiracolo, em busca do seu lugar: a poltrona 22. Quando encontrou, as duas fileiras de poltronas estavam dispostas uma frente à outra: duas moças, japonesas, de frente para um homem, também japonês, que ocupava a poltrona 21. E ele, imediatamente, levantou-se para ajudá-la a acomodar suas coisas, permitindo que ela constatasse que ele era bem mais alto que a média dos japoneses que conhecia.
As duas moças conversavam sem parar, os olhos atentos à paisagem e, às vezes, dirigiam a palavra ao rapaz, talvez lhe perguntando alguma coisa. Ele respondia (ela supunha, pois não entendia nada daquela estranha língua), mas, logo voltava sua atenção para o livro que tinha nas mãos. A algazarra feita por um grupo de rapazes nórdicos, amontoados no fundo do vagão, torcedores de algum time de futebol, impedia que ela dormisse um pouco, embalada pelo movimento contínuo do trem. Impaciente, ela levantou-se e saiu à procura do carro-restaurante.
Ela pediu uma pequena garrafa de vinho tinto, sentou-se de lado no balcão, tirou um bloquinho de papel do bolso, e começou fazer algumas anotações. Quando levantou a cabeça, ela o viu de costas pedindo um “expresso” ao garçom. Tempo suficiente para que percebesse que aquele homem de ombros largos, com os cabelos pretos e muito lisos amarrados na nuca - como um samurai -, estava absolutamente impecável em sua jaqueta de camurça castor, na calça jeans desbotada que lhe realçava os músculos das coxas, nos mocassins, os quais, como tudo o mais, denunciavam que, por trás daquela aparência despojada, se escondia uma boa quantidade de Euros (ou de Yenes). Ele virou-se e surpreendeu-a observando-o. Sorriu, e ela respondeu com um sorriso, timidamente. Ele terminou o café e voltou para seu lugar. Faltavam poucos minutos para a chegada.
Mais uma vez ele ajudou-a com a bagagem, mas, ela mal teve tempo de agradecê-lo, em meio àquela agitação característica dos embarques e desembarques nos trens, com tempo curto e cronometrado. Já na plataforma, ela o viu se afastando na companhia das duas moças, enquanto ela procurava, entre os inúmeros presentes, alguém que estivesse portando uma plaquinha na qual estivesse escrito seu nome.
2º tempo
Ela chegou à cidade por volta das 17 horas. Deixou suas coisas no hotel e saiu, rapidamente. Tinha pouco tempo a perder naquela linda cidade, e queria, principalmente, ver o mar (azul) antes que o sol se pusesse. Apenas trocou o sapato fechado por uma sandália rasteira, conferiu se a máquina fotográfica estava na bolsa, e tomou seu rumo de viajante solitária. Quando atravessou a avenida, e pisou no calçadão que beira a orla, ela os encontrou.
Eles, as duas moças e ele, estavam abraçados, de costas para o mar, enquanto um deles se esforçava, com o braço esticado, para fazer uma foto do trio. Foi quando ela se aproximou e, em uma linguagem que mesclava a mímica e o inglês (minglês?), perguntou se eles gostariam que ela tirasse a foto. Ela fez várias fotos, com uma máquina sofisticada que não conseguiria descrever. Em seguida, eles se ofereceram para fotografá-la, e ela entregou a ele a sua pequena e tímida câmera, primeira geração das digitais. Já estavam enturmados.
Em pouco tempo ela ficou sabendo que ele era arquiteto e dava aulas em uma universidade de Barcelona, na Espanha. Uma das moças era sua irmã, geóloga, e viera, na companhia de uma amiga (melhor dizendo, namorada) participar de um congresso em Paris. Aproveitaram para dar uma esticada pelo sul da França, e ele foi encontrá-las em Avignon. Dali, elas retornariam ao Japão e ele, que estava de férias, pretendia seguir viagem (só) até a Itália. Os três falavam inglês, impecavelmente.
Ela não sabe porque, naquela noite, não aceitou o convite para o jantar. Talvez porque estivesse se sentindo um pouco demais. Mas, aceitou acompanhá-los, no dia seguinte, em alguns passeios nas imediações da cidade. Ele havia alugado um carro e iria buscá-la às 10 da manhã. E o dia foi fantástico! Almoçaram sob as árvores em uma pequena vila, subiram uma montanha até um castelo medieval, experimentaram vinhos deliciosos e retornaram ao final da tarde. Ao deixá-la, na porta do hotel, ele disse:
- Essa noite, você não vai recusar meu convite para jantar...

E:mail: gnogueirabh@yahoo.com.br


[1] Ele escreveu : É FNAC... não FENAC.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

XII- A Provence é tudo de bom

Meio dia em Paris
Mais uma vez enfrentei meu medo de avião e cruzei o Atlântico. Nove horas até Lisboa e, logo em seguida, mais umas duas horas rumo ao meu destino. Primeiro Paris, depois descer de trem até Nice, passando pela Provence.
 No total, foram 15 dias de viagem pela França, permanecendo três ou quatro em cada lugar: Paris, Avignon, Aix en Provence e, finalmente, Nice, na Côte d’Azur. Uma viagem um tanto puxada para uma mulher (já naquela faixa de idade que a gente prefere não comentar) viajando sozinha, arrastando uma mala (ainda que pequena), com uma mochila nas costas, uma bolsa a tiracolo e duas sacolas, porque é muito difícil resistir e não fazer umas comprinhas durante o percurso. Não pretendo fazer aqui um relatório da viagem, mas dar algumas outras dicas, partilhar opiniões.
  •  Temperatura: assim como no ano passado, fui a Paris no começo do outono. Como tenho medo de avião, não gosto de consultar as previsões meteorológicas para não aumentar minha ansiedade caso anunciem tempestades, nuvens espessas, ventos fortes e outras temeridades do tipo. Mas, por experiências anteriores, sei que nesse período do ano, na Europa, costuma chover e as temperaturas caem um pouco, então levei roupas de verão e de meia-estação. Resultado: entulhei minha pequena mala e a mochila com coisas absolutamente desnecessárias, sobrecarreguei meus braços e minhas costas. Se tivesse procurado me informar, saberia que esse ano, excepcionalmente, nos dias que coincidiram com os da minha viagem, estaria fazendo um calor terrível. O verão superou os limites de sua própria estação e invadiu o outono. Foi ótimo, mas eu não precisaria carregar tanto peso.
    O Palácio dos Papas, em Avignon
  • Funcionamento dos museus: apesar de estar levando um guia com roteiros ótimos, que até já indiquei em outro texto, não observei uma coisa fundamental: os dias certos de funcionamento dos locais que queria visitar. Cada um deles fecha em um dia da semana diferente, enquanto que aqui no Brasil, em geral, os museus fecham somente às segundas feiras. Isso vale para todas as localidades visitadas e eu tive algumas frustrações ao dar com a porta fechada como, por exemplo, no Museu Picasso, em Paris, que não abre às terças feiras.  
    O charme de Aix-en-Provence
  • Turistas brasileiros: no trem, indo de Paris para Avignon, pensei que iria relaxar-me, curtir a paisagem, ler, talvez até dar uma cochilada, tudo o que não consigo fazer no avião. Qual o quê! Um grupo de torcedores de algum país nórdico entrou no vagão fazendo o maior estardalhaço. Pelo cheiro que empestou o recinto, eu pensei que eles estavam voltando de uma esbórnia de mais de uma semana. Depois fiquei sabendo que eles (uns 20 homens enormes) estavam indo para Marseille para assistir a uma partida de futebol. Quando eu já estava a ponto de me levantar e pedir que eles dessem um tempo, fizessem um pouco de silêncio para que o restante dos passageiros pudessem descansar, me veio à cabeça que, como aquele, poderia ser um grupo de torcedores de algum time brasileiro, batucando um pagode, querendo mostrar, na maior altura, a “alegria e a irreverência” do ser brasileiro. Enchi-me de tolerância, levantei e fui para o carro-restaurante tomar uma demi bouteille de vinho, que daria mais certo.
Eu conto isso porque tenho visto turistas brasileiros fazendo coisas bastante desagradáveis lá fora, como barulho excessivo em locais onde geralmente as pessoas falam baixo, tomando atitudes arrogantes com funcionários de hotel, restaurantes e aviões, faltando com o respeito à cultura e aos costumes de cada lugar... Enfim, é sempre possível ser alegre e expansivo, sem ser mal educado.
A ponte de S. Benezet, sobre o rio Rhône
  • Roteiro: Eu escolhi meu roteiro de viagem para a Provença a partir de reportagem publicada em uma revista, na qual eram apresentadas várias sugestões, com as respectivas operadoras de turismo. Escolhi um deles de acordo com as minhas disponibilidades financeiras e a possibilidade de fazê-lo de trem. Fiz apenas algumas alterações relacionadas ao número de dias em cada localidade e embarquei para minha aventura solitária, com algumas poucas informações na bagagem. A viagem foi ótima, as cidades são maravilhosas, mas poderia ter sido bem melhor.
1- Eu poderia ter me informado mais sobre as três localidades que ainda não conhecia, quais sejam: Avignon, Aix-en-Provence e Nice. Todas elas possuem características históricas, culturais e até arqueológicas muito peculiares, um perfil muito acentuado. São informações fundamentais para que você se decida com clareza quanto tempo deve se dedicar a cada lugar, onde montar uma base a partir da qual poderá expandir sua viagem, por meio de pequenas excursões, pois, afinal, assim como as Minas (Gerais), as Provences também são muitas. A propósito, existe um site fantástico (só descobri depois que cheguei) com absolutamente todas as dicas sobre esta atrativa região da França: http://www.naprovence.com/ .
2- Poderia ter ficado mais atenta à localização dos hotéis, pois isso prejudicou um pouco minha estadia em Aix-en-Provence. O hotel era fora de mão, distante do centro histórico. É bom a gente levar isso em conta, pois táxi em euro não é barato, e estamos tratando de mulheres que viajam sozinhas. A má localização do hotel dificulta ainda mais as nossas possibilidades de passeios noturnos.
A Praça Masséna, em Nice
3- Poderia ter escolhido outra época para viajar, na primavera ou verão, quando a região fica mais bonita e são programadas muitas feiras e atividades culturais, como os festivais de música. Por outro lado, durante os meses de setembro e outubro o afluxo de turistas é menor, os preços caem um pouco, pois é baixa temporada, e o clima é mais ameno, em relação ao calor e ao frio.

  • Pequenas Dicas:
- A partir da segunda quinzena de outubro as atividades culturais começam novamente a animar a Provence, como o festival de blues em Avignon.
- Se a sua hospedagem inclui o café da manhã, nos hotéis da França você poderá pedi-lo no quarto, sem qualquer acréscimo. Isso é ótimo, pois, podemos dormir até mais tarde e não precisamos nos arrumar correndo para descer. Em geral, esse serviço é disponibilizado até as 11 horas.
- As opções de saladas na região são ótimas, inclusive a Niçoise (de Nice). São muito bem servidas, acompanhadas de pães, e podem substituir uma refeição.
O belo Mercado das Flores
- Fique atenta, pois, a maioria dos restaurantes, entre as 15 e 19 horas, não servem refeições. Alguns chegam mesmo a fechar. Nas cidades menores, do interior da França, isso é realmente um problema.
- Em Nice, não deixe de ir ao Mercado das Flores, em torno do qual existem vários restaurantes, de especialidades variadas, e muitas lojinhas simpáticas. O local, à noite, também é bem animado.
- Leve várias echarpes para colocar no pescoço e não se preocupe em combiná-las com a roupa que estiver vestindo. Quanto mais descombinada, mais fashion.
- Dizem que Marseille é uma cidade com alguma incidência de violência (mas nada que se compare às nossas capitais). Com relação às outras localidades, pode viajar tranqüila.
- Avignon está localizada na região onde se fabrica os famosos Chateauneuf du Pape: aproveite para degustá-los. Ainda em Avignon, se quiser fazer uma refeição tipicamente francesa, gastando um pouquinho mais, vá ao restaurante La Tour. Um lugar lindo, uma comida deliciosa e um atendimento impecável. Fecha às segundas-feiras (25 rue Carnot).
- Aix-en-Provence é onde está localizada a fábrica da L'Occitane. Existe, inclusive, a possibilidade de visitá-la e comprar os produtos a preços menores que na loja situada na cidade. Existem, contudo, outras marcas de sabonetes e águas de colônia também muito boas, a preços mais em conta, como a Collines de Provence.
- Em Avignon e Nice fiquei hospedada nos hotéis da rede Mercure: nota 10 para a gentileza dos funcionários e a qualidade dos serviços.
- Sem que eu soubesse, minha agente de viagens comunicou à representação da TAP em Belo Horizonte que eu estaria viajando sozinha e que não me sentia muito "confortável" durante os vôos, solicitando que, se possível, me colocassem nos assentos dianteiros para que eu pudesse ficar mais próxima dos comissários. Ao que parece, o apelo foi atendido à risca e todos os funcionários, dos quatro trechos que fiz (BH/Lisboa - Lisboa/Paris - Nice/Lisboa - Lisboa/BH) foram extremamente atenciosos. E mais: na volta, vindo de Lisboa para Belo Horizonte, a companhia aérea me fez uma maravilhosa surpresa, me colocando na classe Executiva. Eu até esqueci meu medo de avião. Obrigada TAP!

 Alguns lugares imperdíveis para quem gosta das belas artes
- Avignon: Além do monumental Palácio dos Papas (século XIV), o Petit Palais que possui uma das maiores coleções de arte renacentista, a começar pela Virgem com o Menino, de Sandro Botticelli, entre outras obras maravilhosas (quando terminar, não deixe de tomar um delicioso chá no jardim do Palácio). Ainda em Avignon, o charmoso Musée Angladon, onde, entre outras obras famosas, está a linda Blusa Rosa, de Modigliani.
- Aix-en-Provence: você pode visitar os lugares onde Paul Cézanne viveu.
- Nice: Dedique uma parte de seu dia ao Museu Matisse, que está localizado em um belíssimo parque, onde também estão as ruínas de uma antiga cidade romana (14 AC). O Museu Chagall, junto ao Museu de Arte Contemporânea, com suas 17 grandes telas alusivas ao Antigo Testamento, também é parada obrigatória.

domingo, 4 de setembro de 2011

XI- Lisboa, cheia de encantos e beleza

Até recentemente, em meus planos de viajar pela Europa, sozinha ou não, Portugal não se incluía. Acho que também nos planos de muitos brasileiros, ainda que tantos de nós tenhamos comemorando a bonita festa do dia 25 de abril de 1974, que ficou conhecida como a “Revolução dos Cravos”, merecendo até uma música de Chico Buarque (Tanto Mar). Tantas léguas, tanto mar a nos separar até que, há três anos, para enorme felicidade, aterrisei em Lisboa.
A primeira impressão, logo no aeroporto, se você é um mero CPLP (Cidadão de Países de Língua Portuguesa) e não um privilegiado CPCE (Cidadão de Países da Comunidade Européia), talvez não seja muito boa. Uma fila enorme, que não anda, exatamente porque esses passageiros são os mais questionados pelos funcionários/policiais que os atendem e concedem o visto de entrada no País. Afinal, existem milhares de brasileiros e africanos (provenientes de antigas colônias portuguesas na África) em situação irregular em Portugal.
Pois bem, passado esse primeiro stress, relaxe e comece a curtir a velha cidade que, realmente, é cheia de encantos e beleza. Antes, contudo, uma recomendação: o humor dos portugueses é um tanto peculiar, digamos, bem diferente da irreverência, às vezes um tanto exagerada dos turistas brasileiros. Dois cuidados com os motoristas de táxi: 1) a menos que eles lhe dêem total abertura, não vá lhes perguntando o que é isso, o que é aquilo, para não correr o risco de receber como resposta a de que o serviço não inclui um guia de turismo; 2) em nenhuma hipótese, chame-o de “moço”, pois ele ficará realmente ofendido. Aliás, não chame nenhum profissional de “moço”, pois isso quer dizer que ele é um aprendiz, que não tem experiência adequada para exercer a profissão, que é um subalterno, enfim, esqueça a palavra.     
A melhor época para conhecer Portugal é de maio a setembro. Os meses de julho e agosto são os mais quentes e os mais caros. Em abril e outubro, as condições meteorológicas são mais instáveis, sua viagem pode ser comprometida pelo mau tempo. De novembro a março os preços são menores, mas as chuvas são constantes, e sempre acompanhadas por muito vento e frio.
Identidade
A coisa mais forte que senti, logo de cara, foi a identidade. Como se aquela cidade, aquele mundo, fizesse parte de minha própria história (e faz). Eu estava na Europa, falando português. Às vezes me sentia no centro do Rio de Janeiro, às vezes em Salvador, Recife, São Luís do Maranhão, Ouro Preto, ladeiras, calçadas, comidas, nomes de localidades que me lembravam o Brasil, como Alcobaça e rua Augusta. Estava em casa. Como me ressenti da falta de atenção nas aulas de História, nos tempos da minha infância e juventude.
Um amigo me pediu algumas dicas sobre lugares a serem visitados em Lisboa, motivando-me a escrever esse texto. Vou, então, tentar resumir o que faria em quatro dias, é óbvio, sem esquecer as indicações dos guias turísticos.

Primeiro dia: Restauradores, Rossio (na Baixa) e Chiado

O tradicional Café "A Brasileira"

Desça, de preferência pela Av. Liberdade, desde a Praça Marquês de Pombal, em direção à Baixa, tomando contato com a cidade velha. Se estiver com fome, pare na Pastelaria Suíça (na Praça D. João IV), que, na verdade, é um enorme restaurante, com mesinhas na calçada, de onde você poderá, prazerosamente, ver a vida passar, tomando um chope bem gelado e comendo uma porção de bacalhau, de vários tipos, a preços de pratos executivos.

O por do sol é fantástico no Miradouro
Depois, siga pela rua Augusta até o portal (Arco do Triunfo) que dá acesso à Praça do Comércio, onde o Tejo se mostra com toda sua grandiosidade. Nessa praça existe um Posto de Informações Turísticas e por ela passam muitas linhas de ônibus e troleibus que vão para vários partes da cidade. Em seguida, volte pela rua Augusta e suba pelo Elevador de Santa Justa, ou à pé, para o Chiado[1]. Primeira parada, o belo e tradicional café “A Brasileira” (rua Garret, 120), fundado em 1905, e que foi um secular ponto de encontro de intelectuais portugueses, entre eles Fernando Pessoa, cuja estátua foi erguida no local. Nas proximidades, a praça Camões e as ruínas da Igreja do Carmo, que resistiu ao grande terremoto de 1755, considerada o símbolo de Lisboa. Finalmente, desça em direção ao Miradouro de Santa Catarina[2], pela rua que tem o mesmo nome. Um lugar meio alternativo, bastante freqüentado por jovens, no final da tarde, de onde se pode apreciar o belíssimo por do sol no Tejo e tomar uma ótima cerveja gelada, vendida em um único quiosque. No local existe a Estátua do Adamastor (figura criada por Camões, nos Lusíadas), e por isso o local é também conhecido como Miradouro do Adamastor.
À noite, suba para o Bairro Alto, nunca antes das 21 horas. Os táxis vão lhe deixar em uma praça[3] de onde você subirá dois ou três quarteirões onde se concentram cerca de 200 bares e restaurantes. Não se preocupe ao fazê-lo, pois este é, também, um bairro residencial. As opções para jantar são muitas, e também de casas de fado (eu nunca entrei em uma delas).  E, para finalizar, vá ao bar Portas Largas (rua Atalaia, 103-105).
Acho que esse bar é gerenciado por uma brasileira, com sotaque nordestino, que administra o local com mão de ferro. O lugar, que já foi um ponto tradicional, internacionalmente conhecido por ser exclusivo do público GLT, atualmente é freqüentado por qualquer tipo de pessoa, não importando a opção sexual. Ali, o chope é gelado e os drinks são bem feitos. O difícil é encontrar lugar para sentar.

Segundo dia: Castelo São Jorge, Alfama e passeio de barco pelo Tejo.
 Alfama é um bairro que merece um bom tempo para se conhecer. Existem vários pontos turísticos sendo que, no ponto mais alto, está o Castelo de São Jorge. A edificação ergue-se em posição dominante sobre a mais alta colina do centro histórico (111 metros acima do nível das águas do Tejo), proporcionando aos visitantes uma das mais belas vistas sobre a cidade. Pode-se descer à pé, parando em algum restaurante para tomar um delicioso caldo[4], acompanhado de pão e uma encorpada taça de vinho o que, simplesmente, substitui o almoço.
Se estiver com tempo, faça um tour de barco pelo Tejo. O passeio mais comum percorre o trecho entre as duas principais pontes: a 25 de abril (inaugurada em 1966, com o nome de Ponte Salazar), uma das maiores pontes suspensas da Europa, e a Ponte Vasco da Gama, com cerca de 17 km de comprimento. O passeio é longo, mas tem-se uma vista linda de toda a cidade. Os barcos saem de um local próximo à Praça do Comércio, em horários variados e com preços diversificados.
Voltando pela rua Augusta até o Rossio você chega ao Largo São Domingos, n. 8, onde está a famosa “Ginginha”, um lugarzinho onde se vende uma cachaça feita à base de uma fruta chamada Ginja. Nesse Largo, existe um monumento ao massacre dos judeus em Lisboa, em 1506, e é também um ponto de encontro das comunidades africanas que vivem em Lisboa.
À noite, uma alternativa é buscar no hotel a indicação de uma boa casa de Fado, em Alfama, onde estão concentradas as melhores opções, as quais, inclusive, inspiraram o cineasta espanhol Carlos Saura, em seu filme "Fado".

Terceiro dia: Belém e adjacências.

Reserve um bom tempo para o Mosteiro
De ônibus ou trem, chegar a Belém é facílimo, pois é muito perto do centro de Lisboa. A primeira parada, é o Mosteiro dos Gerônimos, considerado patrimônio mundial pela Unesco e, em julho de 2007, foi eleito como uma das sete maravilhas de Portugal. O lugar é maravilhoso, sendo que em um dos salões existem painéis alusivos ao que acontecia ao longo dos séculos no mundo, em Portugal e, a partir de 1500, no Brasil. É como se a gente visse toda a nossa história se desdobrando diante de nossos olhos. Quase ao lado do Mosteiro dos Jerônimos, fica o interessantíssimo Museu Nacional dos Coches.
Em Belém, existem vários outros pontos turísticos, como a Torre de Belém, o Palácio de Belém e o local onde se vende o famoso Pastel de Belém. Dependendo da época, você ficará muito tempo na fila para comprar a iguaria. Eu, particularmente, não achei que isso fosse tão importante, mas... Logo em frente, do outro lado da rua, existem dois bons restaurantes, onde se oferece boa comida, a preços razoáveis.
De Belém, é fácil seguir para Estoril ou Caiscais, de trem, mas só vale a pena se for verão. As praias não chegam nem aos pés das brasileiras, a água é gelada, e tudo é muito caro. O aluguel de uma barraca de praia no Estoril, por exemplo, fica em torno de 9€.
Uma sugestão para a noite, é ir a um dos restaurantes que ficam na rua das Portas de Santo Antão, bastante movimentada, próxima ao Rossio,

Quarto dia: Sintra, Évora ou Parque das Nações
De trem, é possível ir e voltar no mesmo dia a Sintra e visitar alguns de seus lugares maravilhosos e românticos como o Castelo dos Mouros e o Castelo da Pena. Da mesma forma, outro lugar imperdível é Évora, na região do Alentejo, onde fica a famosa Capela dos Ossos. Em ambos os locais, os vestígios da influência dos árabes na Península Ibérica, onde permaneceram por cerca de 800 anos. Os núcleos históricos de ambas as cidades são incrivelmente parecidos com Ouro Preto, só que menos rústicos.
Caso você não queira sair de Lisboa, uma ótima opção é conhecer o lado moderníssimo da cidade e visitar o Parque das Nações, uma zona nobre de Lisboa, onde foi montada a “Expo 98”[5]. O local oferece inúmeras atrações, como o Oceanário, o Pavilhão da Realidade Virtual, o Pavilhão do Conhecimento; ver concertos ao vivo no Pavilhão Atlântico; andar de teleférico; fazer compras no Centro Comercial Vasco da Gama.


[1] Eu subiria à pé pois, no caminho, existem umas lojas muito interessantes.
[2] Conta-se, segundo a Wikpedia, que foi deste miradouro, junto ao Chiado que o general francês Junot assistiu impotente à partida da frota transportando a família real portuguesa para o Brasil, em novembro de 1808. Daí a expressão popular, sinônima de frustração: «ver navios do Alto de Santa Catarina».
[3] Guarde bem o local, pois é para onde você se dirigirá para pegar o táxi de volta para o hotel.
[4 Os caldos, de diversas variedades, oferecidos em qualquer restaurante, são deliciosos, baratíssimos e muito substanciais, podendo, perfeitamente, substituir o almoço.
[5] A EXPO'98, ou, oficialmente, Exposição Internacional de Lisboa de 1998, realizou-se em Lisboa, de 22 de Maio a 30 de Setembro de 1998. O parque foi construído sob o tema "Os oceanos, uma herança para o futuro" e contou com a participação de cerca de 142 países e organizações internacionais.

domingo, 21 de agosto de 2011

X- Com a segurança, todo o cuidado é pouco

Certa vez, ao atravessar uma movimentda avenida, quando estava bem no meio da pista, percebi um homem caminhando em minha direção. Eu senti um arrepio pelo corpo inteiro e, instintivamente, apertei minha bolsa contra o peito e parei. O sinal já estava piscando, avisando que iria fechar para o trânsito de pedestres, mas eu não me movi. Não poderia virar as costas para o estranho e correr, pois, seguramente, ele seria mais rápido. O semáforo abriu para os veículos, mas, surpreendentemente, nenhum motorista avançou enquanto eu me mantinha imóvel e o homem saia correndo, desaparecendo entre os carros.
Eu conto essa história somente para dizer às mulheres que estão viajando sozinhas para confiarem no sexto sentido. Nas fêmeas, ele é mais aguçado, exatamente porque são fisicamente mais frágeis e, em geral, cabe a elas a defesa das crias. Quando você, interiormente, sentir aquela luzinha vermelha de “perigo” piscando, fique atenta e siga seu instinto, mesmo que a situação seja muito tentadora.
Em nenhuma hipótese, se arrisque a andar sozinha por lugares ermos e solitários, como grandes parques, ruas e praias desertas, durante o dia ou à noite. Ande com dinheiro trocado para o ônibus ou metrô guardado em lugar fácil de ser retirado, para que não tenha que manusear sua carteira em público. Ande pelo meio da calçada, com a bolsa pendurada para o lado interno, nunca para o lado da rua. Na Itália, por exemplo, é comum os batedores atuarem em dupla. Eles passam nas vespas em alta velocidade e o da garupa puxa com força a bolsa da pobre transeunte: ninguém consegue pegá-los. Ande com as mochilas na frente do corpo.
O óbvio: não aceite ajuda de estranhos para utilizar as máquinas para compra de bilhetes para o metrô ou qualquer outro tipo de locomoção. Não forneça a qualquer um o nome do hotel onde está hospedada e, muito menos, o número do apartamento. Não alardeie que está viajando sozinha (se for o caso, diga que está indo encontrar amigos). Em locais de grande aglomeração, não consuma bebidas vendidas em doses, pois nunca se sabe com o quê elas podem ter sido adulteradas.
Procure sempre um guarda para lhe prestar informações, ou recorra aos idosos (já disse em outro texto), pois eles sempre são muito prestativos. Saia com outro documento de identidade que contenha sua foto, e guarde o passaporte onde você estiver hospedada. De preferência aos travel cards, pois, em caso de roubo, o problema será menor que com seus cartões de crédito convencionais. Carregar quantia maior de dinheiro, somente na porchete apropriada, por baixo da roupa. Em bares, se sozinha, nunca fique sentada de costas para portas e/ou janelas. Se estiver em um café, na calçada, procure uma mesa rente à parede. Em hipótese alguma aceite transportar qualquer tipo de volume ou mercadoria, a pedido de terceiros, seja quem for, seja qual for a justificativa.
Problema sério, em Buenos Aires
Finalmente, os táxis. Em geral os serviços de táxi são seguros, em qualquer parte. Mas, em se tratando de Buenos Aires, aquelas recomendações habituais não bastam. Existem verdadeiros marginais trabalhando em frotas que não possuem qualquer tipo de controle público. Portanto, no aeroporto se informe junto ao serviço de atendimento ao turista, ou a qualquer segurança, onde ficam os guichês de companhias autorizadas, nos quais os preços são pré-fixados, de acordo com o destino, ou o pagamento é feito antecipadamente, por cartão. Se, por um acaso, o motorista parar o carro, alegando que o veículo estragou, não aceite a sugestão de pegar o táxi que vem logo atrás. Jamais aceite pagar a corrida em qualquer outra moeda, que não a do país.
 No mais, em relação aos táxis, as recomendações são as mesmas, para qualquer outro lugar: caso precise, peça na recepção do hotel que eles chamem um carro para você. Se gostar do atendimento, peça o número do telefone do motorista, para chamá-lo, em outras oportunidades. Se você não conhece bem a cidade, tenha sempre à mão um mapa, para a eventualidade de ter que ajudar o motorista a se orientar melhor. No mais, boa viagem

domingo, 14 de agosto de 2011

IX- Cuba, por que não?

Os cubanos dizem que eles só vão à praia nos meses que não têm R: maio, junio, julio e agosto. Isso, por causa da temperatura da água no verão, morna como as das nossas praias do nordeste. Pois bem, acho que essa também é uma boa época para você curtir as suas férias naquela fantástica ilha do Caribe. É que, a partir de outubro, com a proximidade do inverno, começa a temporada chuvosa, com risco de furacões.
Quando o assunto é Cuba, a gente sempre tem uma reação positiva ou negativa, ideológica ou política. Uma coisa, contudo, é consensual: o país é lindo e o povo é maravilhoso, muito parecido com o nosso. Bem ou mal, eles sempre encontram um motivo para cantar e “bailar”. A mistura das raças branca e negra[1] resultou em um tipo que muito se assemelha ao dos brasileiros.
O belo Hotel Nacional
Por essas e outras é que eu acredito que você, em vários momentos, se sentirá em casa. E uma casa mais segura do que aqui, nas nossas grandes cidades. Como em qualquer outro lugar do mundo, eles têm  os seus marginais, ladrões, batedores de carteira, mas, um cubano pensa duas vezes antes de molestar um turista. Em primeiro lugar, por que as penas por lá são pesadas; em segundo, o Governo cubano faz o possível (e quase o impossível) para garantir a segurança dos turistas, pois eles representam uma importantíssima entrada de divisas para aquele país tão carente. Afinal, enfrentam o bloqueio dos Estados Unidos (e da maioria de seus aliados) há exatos 52 anos. De qualquer forma, pelo sim, pelo não, dê um cuidado redobrado a seus óculos escuros, principalmente se eles forem daquelas grifes famosas.
É importante dizer, ainda, que além do bloqueio externo, o povo cubano também enfrenta o bloqueio interno, ou seja, restrições para um livre contato com o resto do mundo, diferente de nós, tão globalizados. Nesse sentido, os turistas, para eles, representam uma fonte enorme de informações sobre o que acontece além mar. E os brasileiros, por eles, são absolutamente bienvenidos.
Intercâmbio
Para se chegar a Cuba, saindo do Brasil, uma boa alternativa é ir pelo Panamá. A sua agência de viagens poderá orientá-la com relação aos pacotes disponíveis para turismo individual. Outra opção é consultar alguma das dezenas de entidades que promovem o intercâmbio Brasil/Cuba, sendo que as mais conhecidas são as Associações Culturais “José Marti”.[2] Todas elas mantêm estreito relacionamento com o Instituto Cubano de Amizade com os Povos (Icaip).[3] Por meio delas, você poderá se informar das muitas possibilidades de participar de um Congresso ou outro evento similar, de cunho técnico/científico, em várias áreas, sobretudo educação e saúde. Eventos culturais importantes, como o Festival Internacional de Cinema de Havana, fazem parte de um vasto e atrativo calendário. Essas entidades costumam, também, organizar brigadas de solidariedade, como para cortar cana ou colher laranjas, das quais participam centenas de brasileiros. Fica a seu critério...
Chegando a Cuba, não faça o que você não quer que façam com você, em hipótese alguma, que é dar palpite “de fora” sobre a situação do país. Quer coisa mais irritante que um jovem francês, fanático por Glauber Rocha, ficar nos cobrando uma "revolução" no Brasil? Não vá a Cuba para discutir política, alugar um cubano sobre o que ele deve ou não fazer. Os cubanos, independentemente de apoiarem ou não o atual regime, são muito orgulhosos de sua história. Isso é impressionante! Eles já fizeram pelo menos duas revoluções, portanto, deixe que a história se encarregue do que for preciso. Vá a Cuba se divertir, passear e conhecer o que eles conseguiram de melhor, apesar das dificuldades, nas muitas áreas nas quais são exemplares. E a Saúde, indiscutivelmente, é uma delas.
Sugestões
Pois bem, dito isso, vamos aos fatos, ou melhor, às sugestões. Eu sempre gosto de ler algum livro, romance ou não, que me informe sobre o país que estou visitando. Se estivesse indo, por exemplo, ao Haiti, indicaria “O reino deste mundo”, de Alejo Carpentier, ou “A Ilha sob o Mar”, de Isabel Allende. Em Cuba, você vai conhecer e amar La Habana vieja, lendo o livro “Cecília Valdes” (1839), de Cirilo Villaverde, um dos maiores clássicos da literatura cubana, finalmente lançado no Brasil pela editora Veredas. É claro que podemos incluir aqui, também, os livros escritos por Ernest Hemingway, ambientados em Cuba, a começar pelo “O Velho e o Mar”.[4]  Aproveite para tomar os drinques favoritos do escritor, mojito e daiquiri, no La Bodeguita Del Médio e no Floridita, respectivamente.
O monumento a Hemingway, em Cojimar
Por falar em Hemingway, um lugar imperdível, pertinho de Havana, é Cojimar, a aldeia de pescadores onde ele conheceu o “velho” que veio a lhe inspirar o livro que o qualificou para o Prêmio Nobel de Literatura de 1954. Os próprios pescadores ergueram uma estátua em sua homenagem e existe (existia?) um restaurante bem rústico, cuja especialidade são frutos do mar. Você pode contratar um táxi para levá-la e buscá-la, pagando em torno de US$ 20,00.  A última vez que estive lá, e faz algum tempo, o lugar ainda estava protegido do turismo intenso.
Pagando o mesmo preço, você poderá dedicar um dia a ir a Santa Maria del Mar, uma praia linda, a poucos quilômetros da capital. Mais longe, outro passeio imperdível é ir a Varadero, onde se situa o ponto geográfico mais próximo de Miami, nos Estados Unidos. De lá, pagando por volta de US$ 100,00 a mais, chega-se a Cayo Largo, um arquipélago aonde são oferecidas opções sofisticadas de passeios, incluindo mergulhos em alto mar ou uma ilha para nudistas. Não sei se eles mudaram as condições de transporte para o local, mas eu tive que enfrentar um bimotor soviético (na época a URSS ainda existia), utilizados por pára-quedistas na segunda guerra mundial.
O que se percebe de Cuba hoje, como ocorreu no Brasil, nos tempos do general Figueiredo, é que está acontecendo uma abertura política (e econômica) “lenta, gradual e segura”. Entre estas, a permissão para alguns empreendimentos privados, como os restaurantes familiares chamados Paladares.[5] Nos hotéis você poderá conseguir os endereços e, além de desfrutar de uma deliciosa comida típica e caseira, irá fazer uma significativa economia.
À noite, você poderá fazer uma caminhada pela avenida “Malecon”, que fica a beira-mar de Havana, e se enturmar com os grupos que ficam por ali, ouvindo música, cantando, namorando e bailando. Os principais hotéis também oferecem boas alternativas, mantendo seus próprios cabarés ou boates, como o Habana Livre, National ou o sofisticado Riviera. Não deixe de dar uma passada no jazz club “La Zorra y el Cuervo”, (calle 23, 155, Vedado). Você poderá ir, tranqüilamente, a qualquer um desses locais nos quais, certamente, não ficará sem dançar. É que os homens cubanos, ao contrário dos brasileiros, bailam: e como!
Finalmente, eu sei que esse blog é freqüentado por muitos homens, e eles que nos perdoem, mas os cubanos são muito sedutores, com o agravante, como disse acima, de gostarem de dançar. Então, a chance de você, viajante solitária, ser abordada de uma forma que há muito não acontece aqui no Brasil, é grande. Seu ego pode tomar um impulso inusitado. Mas, tome cuidado, porque homem é homem em qualquer parte do mundo, tem de todo o tipo, fique esperta e divirta-se.








[1] Não incluo a raça indígena porrque em Cuba a sua influência na composição do biótipo daquela população é insignificante, uma vez que os índios foram totalmente dizimados logo no início da colonização espanhola.
[2] José Julián Martí Pérez (Havana, 28 de janeiro de 1853) foi um político, pensador, jornalista, filósofo, poeta e maçom cubano, criador do Partido Revolucionário Cubano (PRC) e organizador da Guerra de 1895 ou Guerra Necessária. Origem: Wikipédia.
[3] Entre no Google e escreva intercâmbio Brasil/Cuba ou Associação José Marti.
[4] Hemingway morou muitos anos na Ilha. Seu nome está muito associado a este país, não somente por ter morado lá, mas especialmente por uma de suas obras mais famosas, “O velho e o mar”, se passar em Cuba. Outros romances que se passam em Cuba são: “As ilhas da corrente” e “Ter e não ter”.
[5] Paladar significa restaurante particular (não pertencente ao governo) e surgiu como referência ao nome do restaurante da personagem Raquel (interpretada por Regina Duarte) na novela brasileira Vale Tudo, exibida em 1988.

domingo, 31 de julho de 2011

VIII- Roteiros em Paris

Para as moças, de todas as idades, sozinhas em Paris, existe um Guia muito legal, principalmente para quem tem pouco tempo e quer aproveitá-lo o máximo possível. Os editores organizaram cinco sugestões de roteiros, agrupados por pontos turísticos bem próximos uns dos outros, de forma que você poderá dedicar um ou dois dias inteiros para cumprir cada um deles, parando de vez em quando em um café para recuperar as energias, quem sabe tomar uma deliciosa sopa de cebola gratinada (soupe a l’oignon), especialidade dos franceses: uau![1].
Eles fazem um resumo histórico de cada lugar. O Guia[2] informa os endereços (incluindo os telefones), os ônibus e linhas de metrô, horários de funcionamento, se o acesso ao local é grátis ou se o preço é moderado ou caro, o site, além de um mapa indicando cada localidade a ser visitada. A publicação apresenta, ainda, uma relação de hotéis e restaurantes (com preços variados), sugestões de locais para compras e entretenimentos, uma relação de serviços e informações úteis, entre essas o endereço do Consulado do Brasil. Finalmente, eles dão ótimas e completas dicas de passeios fora do centro de Paris, como o Bois de Boulogne ou Versailles. Você nem vai se lembrar de que está sozinha.
Roteiros no Centro de Paris
Os roteiros são:
1-  Arredores da Torre Eiffel: Champ de Mars, Les Invalides, Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris, Musée d’Orsay (imperdível), Musée Rodin, Palais de Chaillot, Passerelle Solferino, Pont Alexandre III, Pont de l’Alma, Ponto de Bir-Hakeim, Torre Eiffel, Tour Montparnasse.

O Sena, visto da Pont des Arts
2-  Quartier Latin, St-Germain e Ilhas. É o maior roteiro e, certamente, você não conseguirá fazê-lo em um dia só. Estão incluídas visitas à catedral de Notre-Dame (que dispensa um bom tempo na fila de entrada), alguns cafés famosos e históricos como o Café de Flore ou o Deux Magots (caros e sempre lotados), a famosa (por causa do filme) Pont Neuf, a Sainte-Chapelle, a Sorbonne, Íle Saint-Louis, onde vivem os milionários franceses (incluindo Catherine Deneuve), entre outras sugestões.
3- Marais e Bastilha: Centre Georges Pompidou, Maison Européenne de la Photographie, Musée Picasso, Café Beaubourg, Musée des Arts et Métiers, Musée d’Art et d’Histoire du Judaïsme, entre outras sugestões.[3]
4-Louvre e Champs Elysées: Arco do Triunfo, Champs-Élysées, Jardin des Tuilleries, Musée du Louvre, Opéra Palais Garnier, Petit Palais, Place de la Concorde, Pont des Arts, Galeries Lafayette, etc.
5-Montmartre: Mousée de Montmartre, Place des Abbesses, Place du Tertre, Sacré-Couer.

Próxima Estação, Paris
Um livro fascinante, recentemente lançado pela Paz e Terra, de Lorànt Deutsch (apesar do sobrenome, o autor é francês, mesmo). Como o próprio sub título informa, trata-se de uma viagem histórica pelas estações do metrô parisienses. O tipo do livro apropriado para lhe acompanhar durante a viagem.
“Século por século, somos levados num passeio que mostra que cada nome de estação do metrô e sua localização nos apresentam um cenário da cidade e da França, como numa máquina do tempo. E entendemos que a beleza de Paris não vem apenas de uma elegância clássica e das luzes que a deixam ainda mais encantadora, mas de um respeito cultural por seu passado, ainda mais evidente depois de lermos essa fantástica narrativa de Lorànt Deutsch. Um livro perfeito para quem quer conhecer Paris pela primeira vez ou para quem já é um apaixonado pela cidade e quer saber um pouquinho mais”, informa o editor.

Uai, já está voltando? Se sobrou tempo, vá a rue de Rennes, em Saint Germain (ou Montparnasse) e aproveite para fazer umas comprinhas na FNAC parisiense.
Bom Voyage![4]

Email: gnogueirabh@yahoo.com.br

[1] A sopa, em geral, é o prato mais barato e, acompanhada de pão e uma taça de vinho, dispensa o almoço. Guarde suas reservas para jantar, antes de voltar para o hotel.
[2] PARIS - Guia prático de passeios pela cidade. Laselva Guias. Eu acho que eles têm guias semelhantes para outras cidades.
[3] No Marais existem ótimos restaurantes, alguns bem alternativos (comida indiana, natural, macrobiótica etc.) além de lojas tipo “mercado da moda”, “ponta de estoque” que vendem roupas de grifes famosas, famosérrimas, sem as etiquetas, evidentemente.
[4] Não deixe de fazer uma passeio pelo Sena à noite. Existem muitas opções, inclusive os bateaux bus. Caso queira se presentear, reserve a última noite para um jantar a bordo (você pode comprar o passeio no hotel). Mas, o mais barato é o Calife (dica da minha amiga quase francesa Claudinha), cujo ancoradouro fica no Quais Malaquais, próximo à Pont des Arts.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

VII- Medo de Avião

Pode parecer estranho, mas esta que vos escreve, pretendendo partilhar idéias e sugestões de viagens, tem um medo terrível de avião, melhor dizendo, tem pânico. Contudo, ultimamente isso não tem me impedido de, eventualmente, cruzar o Atlântico em direção ao velho mundo, que é o lugar mais longe aonde, até hoje, consegui chegar. Meço a distância entre um ponto e outro, o de partida e o de chegada, pelo número de horas de vôo.
Tal limitação muitas vezes me paralisou, impedindo lançar-me a vôos mais altos. Nas longas noites insones a bordo de um avião, aprendi a identificar com precisão os meus companheiros de fobia. Alguns deles tomam medicamentos fortes e dormem antes mesmo de o avião decolar. Outros conversam e riem muito alto, em uma tentativa incômoda de demonstrar tranquilidade. São aqueles que ficam contando casos de problemas ocorridos em alguma viagem, e até mesmo de acidentes. Existem os que ficam folheando, desatentamente, uma revista (nunca um livro), e também os que tiram um terço do bolso (ou da bolsa) e simplesmente rezam.
Eu, particularmente, viajo em um estado praticamente catatônico: raramente converso, mas tento ler ou escrever. A impressão que tenho é a de que se eu relaxar, o avião cai. É como se eu o carregasse nos ombros (ai, mea culpa, mea culpa...) Não adianta me falar (e até provar) que é o meio de transporte mais seguro, pois eu continuarei achando que mais seguros são os trens. Sei, também, que uma boa terapia ajudaria muito, mas eu teria que optar: ou gasto com o terapeuta, ou gasto com as viagens. Para ambos, meu dinheiro não dá. Também, se dona Lili Marinho, Oscar Niemeyer, Zeca Pagodinho, Rita Lee, entre tantos outros famosos fazem parte desse clube de medrosos, eu também posso. Afinal, somos todos filhos de Deus.
 No caso dos vôos internacionais, vou seguindo compulsivamente o trajeto do aviãozinho no monitor existente no encosto das poltronas, podendo prever com exatidão os trechos onde as turbulências são frequentes, como ao cruzar a linha do Equador.  Gosto, também, de olhar pela janela, para não me surpreender com as oscilações que ocorrem quando o avião penetra em alguma espessa camada de nuvens ou quando enfrenta uma tempestade. Não gosto de tomar remédios fortes, pois receio ficar sem ação, em caso de necessidade. Não bebo mais (como antes), pois já tomei porres homéricos em aviões, e perdi a conta dos micos que paguei por isso. O máximo que faço é tomar alguns comprimidos de Ansiodorom[1] e, alguns dias antes da viagem, começo tomar Rescue[2]. Contudo, não tive ainda a oportunidade de, por medo de avião, segurar a mão de um gato sequer, pela primeira vez.
Evito ao máximo os assentos próximos das asas, pois tenho a impressão de que balança mais. Prefiro sentar-me bem à frente, de onde posso acompanhar todos os movimentos e expressões dos comissários de bordo. Em uma dessas vezes, eu acho que cheguei a constranger um deles, pois pensou que eu estava, insistentemente, seguindo-o com os olhos por outros motivos, que não o de certificar-me de que estava tudo bem com o avião, sob controle. Eu percebi quando ele deixou de me servir e passou a tarefa para a aeromoça.
Enfim, é isso aí. Consegui escrever esse texto fazendo o trecho entre Florianópolis e São Paulo: nem vi o tempo passar.
Email: gnogueirabh@yahoo.com.br






[1] Medicamento homeopático produzido pelo laboratório Veleda, composto por Passiflora alata, Valeriana officinalis e Avena Sativa, usado principalmente em casos de insônia e ansiedade.

[2]O Rescue Remedy é o remédio de emergência das essências Florais de Bach aplicado em momentos delicados e situações difíceis. É fabricado em qualquer farmácia natural.