segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Sobre estar sozinho


O psiquiatra e escritor Flávio Gikovate morreu, aos 73 anos, no dia 13 de outubro de 2016. Publicou 34 livros e era um dos pioneiros no estudo sobre sexo no Brasil: uma grande perda. Particularmente, creio que alguma coisa do que hoje sou se deve a ele. Entre meus 30 e 40 anos, debrucei-me sobre seus livros, buscando auxílio para encontrar meu próprio eu, reconstruir minha identidade. Viajar sozinha é apenas a consequência de um estado de ser. Confira no texto abaixo.

Eu, só
Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o início deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor.
O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.
A ideia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características, para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei.
Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma ideia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal.
A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo.
Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.

Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.
Flávio Gikovate

quarta-feira, 3 de junho de 2015

A Beagá que eu amo, uai



Do alto das Mangabeiras, o belo horizonte

Eu vivi tantos anos em Belo Horizonte que acabei me tornando uma belo-horizontina exemplar. Meu pai era militar, de forma que, durante minha infância e adolescência, estávamos sempre sendo “transferidos” de um lugar para outro até que, em 1967, definitivamente nos fixamos em Beagá, nas Minas Gerais.

Nos últimos três ou quatro anos, estou vivendo no litoral da Bahia. No entanto, em função de motivos diversos, em geral de dois em dois meses, volto para a capital mineira e me sinto como uma turista revendo lugares com o olhar de quem está, literalmente, de fora. Vejo a cidade com o coração e com o sentimento de quem está a passeio.

Belo Horizonte é uma grande cidade, mais de dois milhões de habitantes, com todos os problemas de uma metrópole, ainda que bem menos que os de muitas outras capitais brasileiras. Mas, como eu escrevo para mulheres que viajam sozinhas, por puro lazer, tenho por obrigação informar que se trata de uma cidade fashion. Talvez seja por isso que Beagá se tornou um polo de moda, abrigando estilistas e confecções bem importantes. Independente da classe social, você vai notar certo apuro na forma das pessoas se vestirem. Dificilmente a gente se depara com alguém digno de ser enviado para o “Esquadrão da Moda”.

CHARME

Andar pelas charmosas ruas da Savassi, ou do bairro de Lourdes, com suas lojas atraentes, parar para um drink ou café, perambular pelos shoppings nas imediações, é bom demais. O problema é aquela tentação terrível de gastar mais do que se pode (tenho que confessar, ela sempre me ataca). Para compensar, no entanto, aos domingos existe a Feira Hippie onde você acha quase de tudo, a preços dignos de qualquer bolsa (ou bolso). Aproveite a ocasião e visite o Palácio das Artes, e depois passeie pelo Parque Municipal. Se der sorte, poderá desfrutar de uma clássica programação musical ou teatral com entrada livre.

Um bom programa para todos os dias, mas, especialmente aos sábados, é visitar e viver o Mercado Central. Um amigo jornalista escreveu uma tese sobre o lugar, outro, acho, escreveu um livro, mas eu, lamentavelmente, não conseguiria. Os motivos pelos quais ouvi de inúmeros amigos a justificativa para frequentá-lo são incontáveis. De qualquer forma, posso citar como consensual, a possibilidade de comprar queijos (mineiros) maravilhosos; tomar um café com pão de queijo ou broinha de fubá, fantásticos, tudo quentinho; comprar cachaça da boa; frutas e legumes de tudo quanto é lugar; entrar em contato com o rico artesanato mineiro. Tomar uma geladíssima cerveja, contudo, é um motivo imbatível. E não se acanhe se estiver sozinha: dê um jeito de encontrar uma mesinha vaga e divirta-se. Tem cada tira-gosto!

Para quem está só e sem carro, visitar a Pampulha e conhecer algumas das mais importantes obras de Niemeyer, como o Museu de Arte (antigo Cassino), a Casa do Baile e a Igrejinha de São Francisco, decorada com os lindos azulejos de Portinari, fica mais difícil (mas não impossível). Em compensação, é fácil chegar-se à Praça Rui Barbosa, no Centro da cidade, mais conhecida como Praça da Estação e, lá, visitar o incrível Museu de Artes e Ofícios. Finalmente, reserve um bom tempo para conhecer o Circuito Cultural Praça da Liberdade, com suas várias opções, com destaque para o Centro Cultural Banco do Brasil (aproveite para almoçar por lá).

Para se orientar melhor, peça na recepção do seu hotel um exemplar do tradicional Guia da Belotur, onde existem informações importantes para o turista e, inclusive, um mapa da cidade encartado. Assim, você poderá conhecer melhor essa Beagá que eu amo.